"Ainda é muito perigoso para as pessoas regressarem à maioria das áreas", alertou hoje o coordenador de apoio de emergência da MSF, Pascale Coissard, que relata a existência de projéteis de artilharia não detonados espalhados entre os restos dos edifícios.
Segundo a organização não-governamental, as operações terrestres das forças israelitas, que começaram em 06 de maio do ano passado, levaram ao "abandono total de Rafah", bem como à "destruição em massa da cidade e ao encerramento da passagem fronteiriça" com o Egito.
As equipas das MSF foram igualmente forçadas a fugir para salvar as suas vidas.
A organização relata que o nível de destruição é tão elevado que muitos dos habitantes, vendo que as suas casas já não estão de pé, decidem voltar ao grande campo de refugiados de al-Mauasi, na costa do enclave.
Vastas áreas de Rafah, como o bairro de Tal al-Sultan, são incompatíveis com uma existência normal.
"Esta zona é horrível, é apenas um monte de escombros", descreveu a coordenadora de apoio médico das MSF, Nadia Abo Mallouh.
"Nem conseguimos reconhecer as ruas onde estava o hospital dos Emirados. É triste ver um hospital que já foi uma tábua de salvação, completamente vazio, sem sinais de vida, tudo destruído", prosseguiu.
Segundo o Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), a Faixa de Gaza precisará de pelo menos dez anos para limpar terrenos minados por explosivos, dando conta da chegada de ajuda a um milhão de habitantes desde o início do cessar-fogo entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas.
Apesar de um "expressivo aumento da entrada de ajuda" desde domingo, a OCHA alertou na quinta-feira que "algumas prioridades neste momento são o manuseamento de escombros, a recuperação de corpos e o combate à contaminação por material bélico explosivo".
Estas medidas são apontadas como fundamentais para permitir "a movimentação segura da população, o fluxo de assistência e o restabelecimento de serviços essenciais".
No centro e sul da Faixa de Gaza, as distribuições mensais de cestas alimentares completas foram retomadas, referiu a OCHA, acrescentando que "o volume, as porções e o conteúdo das refeições nas cozinhas comunitárias foram reformulados e as padarias subsidiadas pela ONU estão prestes a reabrir".
Além disso, o fornecimento de combustível permitiu a retomada do funcionamento de poços de água, centrais de dessalinização e bombas de esgoto, prossegue o escritório de coordenação da ONU, indicando igualmente o início de obras de reparação de estradas e infraestruturas hídricas.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) informou pelo seu lado que crianças e famílias estão a encontrar "destruição total e o colapso das infraestruturas" ao depararem-se com as casas que tiveram que abandonar no norte do enclave.
A OCHA também destaca "o padrão traumático da separação forçada de crianças e famílias" e a necessidade de continuar a localizar menores não acompanhados.
Numa primeira fase, o acordo de cessar-fogo prevê a troca de reféns na Faixa de Gaza por prisioneiros palestinianos em cadeias israelitas, a retirada das forças de Israel de grande parte das zonas populacionais do território e um expressivo reforço da entrada de ajuda humanitária.
As fases seguintes do acordo serão negociadas durante a vigência de 42 dias da primeira.
O conflito em Gaza foi desencadeado por um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou cerca de 47 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
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