Uso de crianças-soldado em África contribui para a estagnação da economia

A investigadora Naomi Haupt disse hoje à Lusa que o uso de crianças-soldado em África contribui para a estagnação da economia, pois a falta de escolaridade destas crianças potencia o aumento da pobreza.

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Lusa
11/02/2025 15:45 ‧ há 4 horas por Lusa

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"A falta de escolaridade resulta na perda de capital humano e na redução da produtividade, contribuindo para a estagnação económica a longo prazo, para a diminuição da participação da força de trabalho, para o aumento das taxas de pobreza e para a redução do investimento estrangeiro devido à instabilidade existente", disse a investigadora , no âmbito de uma entrevista sobre o "Dia Internacional contra o Uso de Crianças-Soldado", que se assinala na quarta-feira.

 

Além deste fenómeno, os países têm custos acrescidos em serviços sociais "relacionados com os cuidados de saúde e as necessidades legais, como os processos de reintegração, das antigas crianças-soldado", que podem passar pelo apoio jurídico para a recuperação da identidade e da documentação legal destas vítimas, indicou.

Segundo Haupt, investigadora convidada do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês) para escrever sobre este tema, as antigas crianças-soldado ganham normalmente um ordenado inferior - que pode chegar a um terço - ao dos seus pares que não foram recrutados, o que reflete "uma desvantagem económica".

Devido à falta de escolaridade, "a probabilidade de conseguirem um emprego qualificado diminui para metade".

"Esta redução de mão-de-obra qualificada pode ter um efeito em cadeia na economia, reduzindo a produtividade global e o crescimento económico", reiterou a investigadora.

Psicologicamente, os traumas também podem impactar a economia das nações africanas se as vítimas não se sentirem capazes de trabalhar, indicou.

Segundo Naomi Haupt, estas crianças-soldado podem ter vários papéis, desde combatentes, bombistas suicidas, mensageiros, escravos domésticos, escravos sexuais.

Além da guerra e dos conflitos ativos em África, há vários fatores que contribuem para o aumento do recrutamento de crianças-soldado.

"A pobreza e as dificuldades económicas levam frequentemente as famílias a enviar os seus filhos para grupos armados em troca de apoio financeiro, alimentos ou proteção", como acontece, por exemplo, em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, disse a investigadora da Universidade de Free State, na África do Sul.

"A instabilidade política e a fraca governação", características por exemplo da região do Sahel, "criam condições em que as autoridades não podem ou não querem impedir o recrutamento de crianças", acrescentou.

Ao mesmo tempo, a rutura das estruturas familiares devido a deslocações, guerras, como no Sudão e na República Democrática do Congo, ou catástrofes naturais, como na Somália, deixa muitas crianças vulneráveis, salientou Naomi Haupt.

"Nalguns casos, as crianças são raptadas à força de aldeias", como na Etiópia, "campos de refugiados ou escolas", como na Nigéria, enquanto outras são recrutadas através de doutrinação ideológica, muitas vezes baseada em crenças étnicas ou religiosas, explicou.

De acordo com a investigadora, ao serem libertadas, estas estão traumatizadas e têm dificuldades na reintegração social.

"O percurso de reintegração de antigas crianças-soldado na sociedade e nas suas famílias é um processo profundamente complexo e difícil, marcado por obstáculos psicológicos, sociais e económicos. Depois de anos passados em conflitos violentos, estas crianças enfrentam frequentemente o estigma, a rejeição e inúmeras dificuldades enquanto tentam reconstruir as suas vidas", lamentou.

Em muitas culturas, o envolvimento de crianças em grupos armados é visto como "vergonhoso ou antinatural", por isso são estigmatizadas, salientou.

Naomi Haupt citou um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica que 40% das crianças-soldado são rejeitadas pelas suas comunidades devido ao seu envolvimento em atos de violência, o que dificulta a reintegração".

"Além de apoio emocional e social, as antigas crianças-soldado precisam de assistência económica para construir um futuro sustentável", disse.

A investigadora alertou ainda que sem educação ou competências profissionais, muitas têm dificuldade em encontrar trabalho, o que as torna vulneráveis a um novo recrutamento para grupos armados.

Leia Também: Países africanos representam 40% da população mundial de crianças-soldado

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