Em comunicado, a organização não-governamental destacou que a partir desta segunda-feira não conseguirá mais garantir as ações do projeto Sumaúma, iniciativa de segurança alimentar que distribuía diariamente 1.800 refeições para migrantes da Venezuela em Roraima, principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil.
O outro projeto suspenso é o Orinoco, que garantia à população migrante e em situação de rua acesso às casas de banho, duches, bebedouros e lavandarias e chegou a 1.000 atendimentos por dia, de acordo com a Cáritas.
Ambos os projetos eram 100% financiados com recursos enviados pelo Governo dos Estados Unidos.
"Diante da ausência de novos aportes financeiros e da falta de recursos em caixa que garantam a sua continuidade, a Cáritas Brasileira tomou a difícil, mas necessária decisão de suspender temporariamente esses programas", lê-se num comunicado da organização.
"Esta decisão reflete a seriedade da instituição, compromisso com a transparência, ética na gestão dos projetos e na prestação de contas aos beneficiários, parceiros e à sociedade", acrescentou.
A Cáritas Brasileira também informou que lançou uma campanha espontânea de arrecadação de fundos para retomar "o desenvolvimento desses programas essenciais".
O Brasil é o terceiro país da América Latina que mais recebeu refugiados e migrantes venezuelanos (626,9 mil) desde 2018, atrás da Colômbia e do Peru, de acordo com dados da Plataforma Regional de Coordenação Interagencial, composta por mais de 200 organizações, incluindo agências da ONU, sociedade civil, organizações religiosas e ONG.
Dados do Governo brasileiro indicam que 94.726 refugiados venezuelanos chegaram ao país em 2024, principalmente através da fronteira em Roraima.
Além da Cáritas, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) no Brasil, fulcral no acolhimento de milhares de venezuelanos, informou que suspendeu preventivamente algumas atividades e o recrutamento devido à incerteza no corte do financiamento norte-americano.
"Estamos suspendendo de forma preventiva algumas atividades e recrutamento de pessoas, esperando os resultados da análise dos Estados Unidos", disse à Lusa Davide Torzilli, representante do ACNUR Brasil.
Desde a posse, em janeiro passado, o Presidente norte-americano, Donald Trump, suspendeu a ajuda internacional distribuída pelos Estados Unidos durante 90 dias, com exceção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egito.
Além disso, Trump indicou que pretende reduzir a administração pública e deu poder ao novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), sob a supervisão do bilionário Elon Musk, para eliminar a Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID), maior contribuinte de projetos de ajuda humanitária do mundo.
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