"Não fazemos parte da discussão dos Estados Unidos [com a Ucrânia], mas devem saber que eu, juntamente com o meu homólogo, o ministro da Defesa ucraniano, estamos a falar sobre esta questão para as nossas próprias necessidades francesas", em particular, para "a nossa indústria de defesa", disse Lecornu à rádio Franceinfo.
Na sexta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é esperado em Washington para finalizar um acordo-quadro sobre a exploração conjunta de minerais ucranianos, tal como exigido pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, como compensação pela ajuda militar e financeira prestada nos últimos três anos, desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
Paris garante que as conversações com Kiev não visam compensar a França pelo apoio prestado, mas antes acautelar uma necessidade fundamental da indústria de defesa francesa, e lembrou que "foi o próprio Presidente Zelensky que, no outono passado [...] incluiu a questão das matérias-primas no seu plano de vitória, fazendo uma série de propostas não só aos Estados Unidos, mas também à França", tendo as negociações começado há meses, por instrução do Presidente francês, Emmanuel Macron.
"Não estamos à procura de ser reembolsados, mas a nossa indústria de defesa vai precisar de um certo número de matérias-primas que são absolutamente fundamentais para os nossos próprios sistemas de armas, não para o próximo ano, mas para os próximos 30 ou 40 anos, e precisamos de diversificar isso", prosseguiu o ministro francês, sem especificar quais as matérias-primas em causa.
A Ucrânia tem no seu solo minerais essenciais que os Estados Unidos cobiçam. Segundo o Centro Regional de Informação das Nações Unidas para a Europa Ocidental (UNRIC), o país possui aproximadamente 5% de todas as "matérias-primas críticas" do mundo, estimando o Gabinete Francês de Investigação Geológica e Mineira que a Ucrânia possua designadamente "20% dos recursos mundiais estimados" de grafite, além de ser "um dos principais países da Europa em termos de potencial" para a extração de lítio.
Numa conferência de imprensa na quarta-feira, após a primeira reunião do seu executivo, na Casa Branca, Trump assegurou que está determinado a conseguir um acordo com a Ucrânia sobre as terras raras (minérios), por forma a obter de volta muito do dinheiro que os Estados Unidos enviaram para Kiev.
"O [ex-Presidente Joe] Biden gastou cerca de 350 mil milhões de dólares [cerca de 320 mil milhões de euros] e não obteve nada de volta. Eu vou garantir que vamos ter esse dinheiro de volta e muito mais", assegurou Trump, dizendo que espera obter um bom acordo com Zelensky quando este visitar a Casa Branca, na sexta-feira.
Zelensky já tinha rejeitado ofertas iniciais dos EUA, argumentando que não continham garantias de segurança adequadas para a Ucrânia e que o preço proposto de 500 mil milhões de dólares (cerca de 480 mil milhões de euros) iria sobrecarregar gerações de ucranianos com dívidas.
Contudo, Kyiv mostrou interesse em usar os investimentos norte-americanos como forma de prender os Estados Unidos ao destino da Ucrânia.
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