"Há mais de dois anos que pedimos para nos encontrarmos com o Keir Starmer, ainda antes de ele ser primeiro-ministro. É agora ou nunca", afirmou Sebastian Lai hoje a um grupo de jornalistas em Londres, entre os quais a Agência Lusa.
Jimmy Lai tem 77 anos, está detido há quatro anos em Hong Kong em regime de isolamento, "sem acesso à luz do dia", e sofre de diabetes, pelo que corre risco de vida, disse.
Tanto o pai como o filho possuem nacionalidade britânica em virtude de Hong Kong ter sido uma colónia britânica até 1997.
"Não sei o que mais tenho de fazer para me encontrar com o meu próprio primeiro-ministro, para que ele mostre que apoia o meu pai e que o Governo do Reino Unido o apoia e quer libertá-lo o mais rapidamente possível. Infelizmente, não sei quanto tempo resta ao meu pai", lamentou Sebastian Lai.
Na segunda-feira, entregou pessoalmente uma carta em Downing Street a renovar o pedido de reunião com Keir Starmer.
A Agência Lusa pediu um comentário do gabinete do primeiro-ministro e do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânicos, mas não recebeu resposta em tempo útil.
Sebastian Lai queixou-se que o pai tem sido tratado pelas autoridades chinesas "de forma totalmente desumana", pelo que a saúde deteriorou, estando muito mais magro, "quando era conhecido por ser rechonchudo e alegre".
O empresário foi detido em 2020 durante na sequência de protestos pró-democracia no agora território chinês e acusado de "conluio com forças estrangeiras" e sedição, à luz da lei de segurança nacional promulgada no mesmo ano.
Lai foi, entretanto, condenado por fraude e por participar em protestos pró-democracia "não autorizados" em 2019 e 2020 e forçado a fechar o jornal diário "Apple Daily" em 2021.
Na quinta-feira, terminou o depoimento em tribunal, que durou 52 dias devido ao longo interrogatório da acusação.
O julgamento, que começou em dezembro de 2023 mas foi prolongado por múltiplos atrasos, deverá ser retomado nas próximas semanas para as alegações finais e concluir com a leitura da sentença, prevista para outubro.
A advogada, Caoilfhionn Gallagher, considera que este "é um momento crítico" não só no julgamento, mas também para Jimmy Lai devido à sua idade e estado de saúde.
"Francamente, não é aceitável que pessoas como Sebastian tenham de lutar com o seu próprio governo para obter atenção", lamentou, referindo-se às promessas do Parido Trabalhista de "proteger os seus cidadãos" durante a campanha eleitoral.
A advogada está convencida de que este caso terá de ser resolvido através de uma intervenção direta de Starmer junto do Presidente chinês, Xi Jinping.
A conclusão "quase inevitável" do julgamento, admitiu, será um veredicto de culpado.
"De acordo com a lei de Segurança Nacional, ele enfrenta a possibilidade de uma pena de prisão perpétua por sedição, mas mesmo uma sentença de cinco ou dez anos, dada a sua idade, é na prática uma sentença de morte", vincou.
A acontecer, significaria que "um cidadão britânico vai morrer na prisão por ser jornalista e por defender os valores democráticos", avisou a advogada.
Caoilfhionn Gallagher acredita que o Governo britânico pode fazer mais "com vontade política e criatividade" para conseguir a libertação de Jimmy Lai, referindo os exemplos da jornalista australiana Cheng Lei em (2023), o pastor norte-americano David Lin (2024), os canadianos Michael Spavor e Michael Kovrig (2021) e o irlandês Richard O'Halloran (2022).
A advogada recordou também a troca de prisioneiros com a Rússia no ano passado que resultou na libertação de 16 prisioneiros americanos, alemães e dissidentes russos, incluindo o jornalista e político opositor anglo-russo Vladimir Kara-Murza.
A diretora da organização Repórteres Sem Fronteiras, Fiona O'Brien, considera que este é "um momento verdadeiramente crucial" e que os atrasos no julgamento fazem parte de "uma tática muito deliberada para ofuscar e esperar que o mundo se esqueça".
"Não nos podemos esquecer de Jimmy Lai. Este caso não é só sobre ele. É um caso sobre os valores da liberdade de imprensa pelos quais ele lutou toda a sua vida. O que lhe acontecer é importante para os jornalistas e para o jornalismo mundial", defendeu.
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