O processo foi denunciado como um "golpe político" pelo partido de Imamoglu, o social-democrata e laico Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla em turco), principal força de oposição ao Presidente Recep Tayyip Erdogan.
Eis o que se sabe sobre o processo que desencadeou manifestações de protesto na Turquia, num trabalho da agência francesa AFP:
Quem é Ekrem Imamoglu?
O presidente da câmara de Istambul, eleito em 2019 e triunfantemente reeleito em 2024, é o opositor número 1 do Presidente Erdogan.
Ao conquistar a maior e mais rica cidade da Turquia (com uma população de quase 16 milhões de habitantes), o autarca de 53 anos tornou-se o homem "a abater" pelo partido no poder, o AKP, e pelo chefe de Estado.
De que é acusado?
O autarca foi detido na madrugada de quarta-feira por "corrupção e apoio a uma organização terrorista".
A segunda acusação tem por base um acordo eleitoral entre o CHP e um grupo pró-curdo que as autoridades acusam de ter ligações ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo armado que Ancara classifica como terrorista.
Na ordem de prisão, a que a AFP teve acesso, o tribunal declara que o suspeito "está a ser detido por criar e dirigir uma organização criminosa; aceitar subornos; corrupção; registo ilegal de dados pessoais e fraude em concursos".
Lê-se também no documento que, "embora exista uma forte suspeita de culpabilidade pelo crime de apoio a uma organização terrorista armada (...), não é necessário, nesta fase", ordenar a detenção neste contexto, "uma vez que já foi decidido encarcerá-lo por crimes financeiros".
CHP na linha de fogo
Além de Imamoglu, cerca de 90 pessoas foram detidas na quarta-feira, entre as quais dois presidentes de câmara da megalópole turca que receberam hoje ordens de detenção por corrupção e terrorismo.
Os dois autarcas também são membros do partido fundado por Mustafa Kemal Ataturk, o pai da República Turca, que tem 134 lugares no Parlamento, contra 272 do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), de Erdogan.
Nas autárquicas de março de 2024, o CHP ganhou 35 das 81 capitais de província, mais 11 do que o AKP.
O partido de Imamoglu manteve ou ganhou a maioria das grandes cidades, como Ancara, a capital, Istambul, Izmir, Antalya e a grande cidade industrial de Bursa.
Um contexto especial
Ekrem Imamoglu devia ter sido nomeado hoje candidato do CHP às próximas eleições presidenciais, previstas para 2028, numas primárias em que era o único candidato.
Na terça-feira, poucas horas antes de ser detido, a anulação do diploma universitário já tinha colocado um obstáculo no caminho, dado que a Constituição turca exige que os candidatos presidenciais tenham um diploma de ensino superior.
Em 2023, Imamoglu foi impedido de se candidatar devido a uma sentença de mais de dois anos de prisão por alegados insultos a membros do Alto Comité Eleitoral, da qual recorreu.
O CHP decidiu manter as primárias de hoje e apelou à participação de todos os turcos, mesmo os não inscritos no partido, na esperança de transformar a consulta num plebiscito.
Protestos que não se viam desde 2013
Desde quarta-feira, a detenção de Imamoglu desencadeou protestos que não se viam na Turquia desde as manifestações de Gezi, em 2013, que tiveram início na Praça Taksim, em Istambul.
Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Istambul na sexta-feira e no sábado à noite, e grandes manifestações foram realizadas em Ancara e Izmir, em particular.
Realizaram-se esta semana manifestações em pelo menos 55 das 81 províncias da Turquia, ou seja, mais de dois terços do país, segundo uma contagem da AFP.
Os observadores notaram que esta mobilização, impulsionada pelos jovens, vai muito para além do destino de Ekrem Imamoglu.
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