Em Maputo, concentrados à porta da escola, os professores portugueses colocaram cartazes no chão com mensagens como "equidade" e "estamos longe, mas merecemos respeito", no primeiro de dois dias de greve que teve adesão de pelo menos 25 profissionais, segundo informação dos docentes.
"Estamos neste vazio legal, estamos nas mesmas condições em que estávamos quando éramos professores contratados e a nossa luta é nesse sentido, é de equidade para todos os professores portugueses, porque temos condições laborais que estão aproximadas às dos professores em Portugal continental enquanto estamos deslocados do nosso país", disse o professor Antero Ribeiro.
Em causa estão as reclamações dos professores do quadro da EPM face às disparidades salariais, exigindo iguais condições de trabalho com os profissionais em regime de mobilidade. Desde logo, exigem a regularização dos seus contratos, incluindo o registo e consequentes descontos para a Segurança Social.
"Um professor de carreira, que esteja no terceiro escalão, que é o meu caso neste momento, recebe em termos brutos 2.073 euros. O mesmo sucede a um que esteja em mobilidade, [que] recebe este vencimento, mas a estes professores o Estado entende a necessidade de pagar um abono de alojamento (...) de pouco mais de 1.800 euros, portanto, soma aos 2.073", reclamou Ribeiro, à entrada da EPM, em Maputo.
"Há um sentimento de descontentamento, de algum desânimo. No entanto, fazemos tudo em prol da nossa profissão, amor à camisola, amor à profissão. De qualquer modo, há um sentimento, no fundo (...), há um sentimento de alguma tristeza, desconsideração, desvalorização", declarou também a professora Célia Cuambe, na EPM há 18 anos.
Os professores disseram à Lusa que as suas reclamações são do conhecimento do Governo português, através do Ministério da Educação, e lembraram que as preocupações se arrastam há nove anos.
"Com muita pena, tivemos de chegar ao extremo de greves, porque sabemos os transtornos a nível letivo e pedagógico que causamos aos nossos alunos, nossas crianças, e famílias, os constrangimentos que causamos. De qualquer modo, é importante que estejamos bem connosco para estar com os outros, isso faz parte do nosso bem-estar emocional", acrescentou Cumbe, admitindo uma nova greve se nada for resolvido.
À greve convocada pelo Sindicato de Todos OS Professores da Educação (S.TO.P) juntou-se também a professora Beatriz Vaz, que está em Moçambique há um ano, mas já vive as "dificuldades" dos seus colegas que estão na condição que é contestada há anos.
"Acabo por estar aqui um pouco desmotivada, porque não temos condições, não nos dão condições iguais aos nossos colegas e isso acaba por desmotivar a mim e ao resto dos professores que estão na mesma situação que eu, porque os custos de vida aqui são bastante elevados, habitação, seguro de saúde (...), as condições são miseráveis", declarou à Lusa, indicando que este ano vai concorrer para Portugal.
À porta da escola, Janete Cravino, encarregada de educação, pediu ao Governo português para resolver as preocupações dos professores: "Estamos incondicionalmente do lado desses professores, assistimos ao longo destes anos a várias situações de debandada generalizada de professores, saem às dezenas, isto não dá estabilidade à escola, não dá estabilidade aos pais e muito menos aos alunos".
A diretora da EPM admitiu que o estabelecimento não funcionou hoje devido à greve e reconheceu dificuldades e prejuízos para os alunos face à ausência de alguns profissionais.
"Só tenho a dizer que a escola e a direção da escola está sensível à situação dos professores e que sabemos que o Ministério da Educação e Ciência em Portugal também, e aguardamos o desenvolvimento e temos esperança que num breve espaço de tempo haja solução para esta situação", disse Luísa Antunes.
A greve é um "esforço conjunto" protagonizado por várias escolas portuguesas no estrangeiro (Timor, Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe).
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