O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, chega esta sexta-feira à Gronelândia para uma visita à base norte-americana de Pituffik. A deslocação provocou polémica com as autoridades dinamarquesas e gronelandesas porque previa uma ida à capital Nuuk, mas a alteração do programa acalmou os ânimos.
O norte-americano será acompanhado pela sua mulher, Usha Vance, que tinha previsto deslocar-se a Nuuk e assistir a uma popular corrida de trenós puxados por cães, o que foi entretanto cancelado.
A deslocação, sublinhe-se, ocorre numa altura em que o presidente norte-americano, Donald Trump, mantém as declarações sobre a anexação do território autónomo da Dinamarca pelos Estados Unidos.
Além da visita de JD e Usha Vance, a Gronelândia terá também os olhos postos na sua política interna, uma vez que o liberal Jens-Frederik Nielsen, cujo partido - o Demokraatit - venceu as eleições legislativas do passado dia 11 com quase 30% dos votos, irá apresentar um governo amplo que reúne quatro dos cinco partidos com representação parlamentar e todos os independentes moderados da região autónoma dinamarquesa.
Trump rejeita "provocação", mas diz que EUA "precisam da Gronelândia"
No início da semana, Donald Trump defendeu que a visita de altos responsáveis de Washington à região que pretende anexar é uma "abordagem amigável" e "não uma provocação".
"Esta é uma abordagem amigável, não uma provocação", disse o presidente dos EUA após uma reunião de gabinete na Casa Branca. "Estamos a lidar com muitas pessoas na Gronelândia que gostariam de ver algo acontecer para que o território seja devidamente protegido e cuidado. Estão a recorrer a nós. Não somos nós que estamos a apelar a eles".
Ainda assim, um dia depois, veio afirmar que os Estados Unidos "precisam da Gronelândia para a segurança internacional". "Esta é uma ilha de que precisamos do ponto de vista defensivo e ofensivo. Não gosto de colocar as coisas desta forma. Mas vamos ter de a obter", insistiu.
Dinamarca e Gronelândia criticam visita: "Situação inaceitável"
O primeiro-ministro cessante da Gronelândia, Mute Edge, foi das primeiras pessoas a criticar a visita de uma delegação norte-americana à ilha. Na segunda-feira, quando ainda se previa que o casal Vance visitasse Nuuk, o responsável destacou que a "integridade e democracia" da Gronelândia "devem ser respeitadas sem qualquer interferência externa".
Já o provável sucessor de Edge, Jens-Frederik Nielsen, disse compreender "as preocupações" dos concidadãos e frisou que não serão "forçados a entrar num jogo de poder".
Por sua vez, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou, na terça-feira, que "a pressão que está a ser exercida sobre a Gronelândia e a Dinamarca nesta situação é inaceitável".
A diplomacia dinamarquesa congratulou-se depois com a reversão da decisão dos EUA, quando soube que Vance apenas irá visitar uma base militar norte-americana e esclareceu que já não havia qualquer possibilidade de viajar para outro local no território autónomo dinamarquês.
"Acho muito positivo que os americanos estejam a cancelar a sua visita à companhia groenlandesa. Em vez disso, visitarão a sua própria base, Pituffik, e não temos nada contra isso", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen.
"Planos sérios". Putin diz que seria "erro grave" desvalorizar intenções de Trump
O presidente russo, Vladimir Putin, considerou que os planos de Trump de assumir o controlo da Gronelândia "são sérios" e alertou que o Ártico pode tornar-se num "trampolim para possíveis conflitos".
Para o líder russo, tratam-se de "planos sérios", sendo "evidente que os Estados Unidos continuarão a promover sistematicamente os seus interesses geoestratégicos, político-militares e económicos no Ártico", e seria um "grave erro" acreditar que as declarações do líder da Casa Branca são extravagantes.
Recorde-se que, em meados deste mês, Trump afirmou que a anexação dos Estados Unidos ia "acabar por acontecer" e promover a "segurança internacional".
Embora todos os principais partidos da Gronelândia sejam a favor da independência do território a mais ou menos longo prazo, nenhum apoia a ideia de uma anexação por Washington. Também as sondagens de opinião indicam que a população de 57 mil habitantes é esmagadoramente contra.
A Gronelândia, que é quatro vezes maior do que a França, tem um interesse estratégico devido à localização - encontra-se na rota mais curta para a trajetória de quaisquer mísseis entre os Estados Unidos e a Rússia - e às riquezas minerais.
Leia Também: Gronelândia apresenta novo governo alargado no dia da visita de JD Vance