Imamoglu declarou que não se sente apoiado pelos aliados europeus da Turquia, numa altura em que a sua detenção representa "uma nova fase na descida do país ao autoritarismo e ao exercício do poder arbitrário, num país que se aproxima agora de um ponto de não retorno", segundo um artigo de opinião de Imamoglu que foi publicado hoje no jornal norte-americano The New York Times.
"Líderes sociais-democratas e autarcas de toda a Turquia e de outros lugares, de Amesterdão a Zagreb, demonstraram o seu apoio corajoso e com princípios após a minha detenção", disse o líder do Partido Republicano do Povo, acrescentando que "a sociedade civil também não vacilou".
No entanto, denunciou o "silêncio ensurdecedor" dos "Governos centrais de todo o mundo".
"Washington limitou-se a manifestar a sua preocupação com as recentes detenções e protestos na Turquia. Salvo raras exceções, os líderes europeus não apresentaram uma resposta forte", lamentou o ex-autarca turco.
Imamoglu alertou que "o que está a acontecer na Turquia e em muitas outras partes do mundo demonstra que a democracia, o estado de direito e as liberdades fundamentais não podem sobreviver em silêncio nem ser sacrificados por conveniências diplomáticas disfarçadas de 'realpolitik'".
O líder da oposição turca afirmou que a sua detenção é uma perseguição política orquestrada pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, um homem que transformou a Turquia numa "república do medo".
No artigo, intitulado "Sou o principal rival do Presidente turco. Fui preso", Imamoglu recordou como foi detido pelas autoridades turcas em 19 de março, numa cena que "parecia mais a captura de um terrorista do que de um funcionário eleito da maior cidade do país".
Imamoglu afirmou que a sua detenção "não foi nada inesperada" e que, na verdade, representou o culminar de "meses de assédio legal" contra o ex-autarca.
"Mas como não me pode derrotar nas urnas, o Presidente Erdogan decidiu recorrer a outros métodos", acrescentou Imamoglu, antes de enumerar as acusações feitas contra si, sublinhando que não há "qualquer prova credível".
O ex-autarca alertou que "ninguém está seguro na Turquia agora", um país que "se transformou numa república do medo" sob a liderança de Erdogan, e que uma perspetiva catastrófica o espera se a situação continuar como está.
"Isto é mais do que apenas uma erosão lenta da democracia. É o desmantelamento deliberado das bases institucionais", acrescentou Imamoglu.
"A geopolítica não nos deve cegar para a erosão dos valores, particularmente as violações dos direitos humanos. Caso contrário, legitimamos aqueles que estão a desmantelar a ordem global baseada em regras, pedaço a pedaço", acrescentou.
Imamoglu disse que "o destino da democracia depende da coragem dos estudantes, dos trabalhadores, de outros cidadãos, dos sindicatos e dos representantes eleitos --- aqueles que se recusam a permanecer em silêncio quando as instituições se desmoronam".
"Tenho fé no povo turco e no resto do mundo que luta pela justiça e pela democracia", afirmou.
As manifestações noturnas em Istambul, organizadas pelo Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), de Imamoglu, terminaram na terça-feira, no entanto estenderam-se a outras cidades, e mesmo em Istambul, desde o fim dos comícios do CHP, os protestos têm sido mais orgânicos.
Apesar dos protestos, na sua maioria pacíficos, a polícia utilizou gás lacrimogéneo, canhões de água e balas de plástico para reprimir as manifestações proibidas em Istambul, Ancara e Izmir. Vários jornalistas já foram detidos nos últimos dias.
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