"O acordo de paz [de 2018] está sempre presente e será aplicado na letra e no espírito. Não entrou em colapso e não entrará em colapso em nenhuma circunstância", disse hoje o ministro da Informação do Sudão do Sul, Micheal Makuei, na primeira conferência de imprensa oficial desde o início da crise entre o Presidente, Salva Kiir, e o vice-presidente, Riek Machar.
Na quarta-feira, Machar, foi detido pelas forças leais ao Presidente sul-sudanês e o partido de Machar, o Movimento de Libertação do Povo do Sudão na Oposição (SPLM-IO), declarou o fim do acordo de paz que tinha posto termo a cinco anos de uma guerra civil sangrenta entre as forças de Kiir e Machar.
Segundo as declarações de hoje do executivo sul-sudanês, Machar, bem como outros opositores, serão investigados e levados à justiça na sequência dos confrontos que eclodiram este mês.
O Governo acusou ainda Machar de estar a "agitar o SPLM-IO", que lidera, "para que se revoltem contra o executivo sul-sudanês e impeçam a realização de eleições, regredindo assim a evolução do país para uma nova guerra civil.
"Machar tem estado em contacto com as suas bases no terreno e com os políticos e comandantes do SPLM-IO agitando-os para que se revoltem contra o governo com o objetivo de perturbar a paz, para que não se realizem eleições e o Sudão do Sul regresse à guerra", declarou o ministro Makuei.
A comunidade internacional tem vindo a reagir a este recrudescer das tensões políticas no Sudão do Sul.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou hoje a manifestar preocupação com a conjuntura sul-sudanesa e pediu à comunidade internacional que não abandone o país, que vive "atualmente sob as nuvens negras de uma tempestade perfeita".
O ex-primeiro-ministro português lamentou, em declarações à imprensa, que o povo sul-sudanês "não tenha os líderes que merece" e classificou os recentes acontecimentos violentos de "lembrança amarga" das guerras civis que ocorreram entre 2013 e 2018, que causaram mais de 400.000 mortos.
Além do conflito político, o país está a viver um pesadelo humanitário, com três em cada quatro sul-sudaneses a necessitarem de assistência e metade da população a sofrer de insegurança alimentar, agravada por um surto de cólera.
A situação é ainda agravada pelo facto de o país acolher também mais de um milhão de pessoas deslocadas do vizinho Sudão, que vive a sua própria guerra civil desde abril de 2023.
Do ponto de vista económico, o país vive o seu pior momento devido à queda dos preços do petróleo (a sua principal fonte de rendimento) e a inflação é galopante, enquanto a ajuda humanitária está a ser reduzida ao mesmo ritmo que no resto do mundo, após os grandes cortes de ajuda internacional.
Guterres instou a comunidade internacional a não esquecer o Sudão do Sul neste momento, porque "nem o povo do Sudão do Sul pode suportar outro conflito, nem o Corno de África pode".
O Sudão do Sul pode ter saído do radar, mas não podemos deixá-lo cair no abismo", concluiu o secretário-geral.
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