"Milhares de crianças foram vítimas de violação e violência sexual em apenas dois meses" no início do ano, disse o porta-voz da agência da Organização das Nações Unidas (ONU), James Elder, numa conferência de imprensa, em Goma, cidade da RDCongo, avisando que esta é "talvez apenas a ponta do icebergue".
"A taxa de violência contra as crianças nunca foi tão elevada", alertou, acrescentando que estes menores "representam entre 35% e 45% dos cerca de 10.000 casos de violação e violência sexual registados (...) só em janeiro e fevereiro deste ano".
Elder contou a história de uma rapariga de 13 anos que foi violada, que simplesmente não compreendia como podia engravidar e que teve de ser submetida a uma cesariana "devido ao seu pequeno corpo".
"Não estamos a falar de incidentes isolados, mas de uma crise sistémica", disse Elder, afirmando que também havia "crianças pequenas" entre as vítimas. Acrescentou ainda que "esta é uma arma de guerra e uma tática deliberada de terror", que "destrói famílias e comunidades".
A Unicef apela a que sejam tomadas "medidas urgentes e coletivas", nomeadamente em termos de prevenção e de apoio às vítimas, para que possam ser cuidadas, mas também para que possam denunciar estas violências sem medo.
"E os perpetradores devem ser levados à justiça", disse Elder.
A falta de financiamento internacional está a sobrecarregar o trabalho das organizações humanitárias, uma crise acelerada pela redução maciça da ajuda internacional dos Estados Unidos (EUA) desde que Donald Trump regressou ao poder.
O leste da RDCongo, rico em recursos, que faz fronteira com o Ruanda, tem sido assolado por conflitos há 30 anos, mas a crise intensificou-se nos últimos meses com a tomada, em janeiro e fevereiro, das principais cidades de Goma e Bukavu pelo grupo rebelde Movimento 23 de março (M23), apoiado pelo país vizinho.
A escalada do conflito provocou cerca de 1,2 milhões de pessoas deslocadas nestas províncias, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Desde 1998, o leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU.
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