Trump atua em "zonas cinzentas" nos mercados para ter benefícios pessoais

O economista e especialista em mercados financeiros Filipe Garcia defende, em declarações à Lusa, que o presidente norte-americano, Donald Trump, atua nos mercados a partir de "zonas cinzentas" que trazem "benefícios financeiros para si e para os seus".

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© SAUL LOEB/AFP via Getty Images

Lusa
29/04/2025 20:16 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Estados Unidos

Trump, que cumpre hoje 100 dias no cargo, tem sido amplamente criticado pela oposição democrata de cometer 'insider trading' devido a uma publicação na sua rede social Truth Social a 09 de abril, na qual anunciava que seria "uma boa altura para comprar" ações, menos de quatro horas antes de introduzir uma pausa de 90 dias nas tarifas que tinha decretado previamente a quase todos parceiros comerciais de Washington.

 

Filipe Garcia, que assume o cargo de presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros, realça, porém, que Trump não cometeu necessariamente o crime de 'insider trading', uma vez que esta prática compreende "comprar ou vender títulos previamente à divulgação de um facto, de uma notícia ou algo do género que não seja ainda do conhecimento público, mas que essa pessoa ou entidade já tenha esse conhecimento".

Os mercados, no momento da publicação de Trump, estavam em queda, e após o anúncio da pausa das tarifas subiram exponencialmente, levando a elevados ganhos a quem investiu antes da pausa tarifária.

"Para haver uma irregularidade de 'insider trading', é preciso que haja transação", ou seja "comprar ou vender antes um determinado título na posse de informação privilegiada que não era ainda pública na altura dessa transação de compromissos", explica à Lusa Filipe Garcia.

De acordo com o especialista em mercados financeiros, no caso de Trump o que temos é uma pessoa numa posição privilegiada, mas que revelou uma informação ao público, o que torna tudo "um bocadinho diferente" e o que leva ao Presidente dos Estados Unidos ser "criticado pela existência de muitas zonas cinzentas entre a sua atuação e os benefícios financeiros para si e para os seus".

O economista da IMF considera que em vez de 'insider trading' a acusação "mais óbvia seria de manipulação do mercado", porque Trump "coloca a informação no público e não a circular de maneira restrita".

Para Filipe Garcia, as acusações mais graves estão associadas ao facto do governante norte-americano ter vindo a apostar em criptoativos (ativos digitais), através da Trump Media, e depois "ter vindo a promulgar um conjunto de legislação que beneficiam negócios nos quais já está envolvido e que tem vindo a reforçar a sua posição".

Embora Trump durante a própria campanha eleitoral para as presidenciais de 2024 tenha trilhado um caminho de apoio ao mercado de criptoativos, esta é para o especialista outra "zona cinzenta" dado que o Presidente dos Estados Unidos e a sua família estão envolvidos neste tipo de mercados.

Num paralelismo entre o envolvimento político e um possível benefício pessoal, Filipe Garcia refere que "é de esperar que um governante se afaste o máximo possível dos assuntos sobre os quais está a decidir", no entanto, frisa, "nos Estados Unidos não está a ser bem assim".

"Trump não promoveu nenhum afastamento em relação a mercados ao qual ele tem uma exposição forte", acrescenta.

Vários democratas, como o senador Adam Schiff, pediram uma investigação a Trump e outro senador, neste caso Chris Murphy, escreveu na rede social X que "está-se a formar um escândalo de uso de informação privilegiada".

A congressista republicana, Marjorie Taylor Greene, eleita pelo estado da Georgia, revelou que fez várias compras durante o período volátil dos mercados, incluindo ações da Amazon e da Apple, ações estas que subiram 12% e 15%, respetivamente, após o anúncio de pausa de tarifas de Donald Trump.

A congressista democrata de Nova Iorque Alexandria Ocasio-Cortez, atualmente envolvida no movimento "Lutar contra a Oligarquia" que tem promovido comícios em todo o país, pediu pouco depois do anúncio da pausa das tarifas decretada por Trump, em 09 de abril, que todos os membros do Congresso revelassem as compras e vendas de ações dentro de 24 horas, algo que não aconteceu, embora exista uma data limite para os congressistas revelarem os investimentos em bolsa que será no dia 15 de maio.

"O prazo de divulgação é 15 de maio. Estamos prestes a saber algumas coisas. É altura de proibir o abuso de informação privilegiada no Congresso", escreveu na altura Ocazio-Cortez na rede X.

Leia Também: Sondagem mostra que quase 90% dos ucranianos não confiam em Trump

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