AMI avisa que muito está por fazer na reconstrução do Haiti
O presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, afirmou hoje que, cinco anos depois do violento sismo que abalou o Haiti, "muito está por fazer" na reconstrução daquele país caribenho, onde 400 mil pessoas continuam sem casa.
© Reuters
Mundo Fernando Nobre
A 12 de janeiro de 2010, um violento sismo abalou o Haiti, causando mais de 230 mil mortos e um milhão e meio de deslocados.
"Muito está por fazer no Haiti. Como é habitual, logo após um grande cataclisma, a conferência dos doadores promete mundos e fundos, mas depois uma catástrofe empurra outra para o esquecimento", disse à Lusa Fernando Nobre, a propósito de um balanço de cinco anos da atuação da AMI naquele país.
Segundo o responsável, raramente os doadores atingem os 30% das verbas prometidas: "Fica-se sempre muito aquém do que se prometeu a quente, no momento da catástrofe e quando a comunicação social está em cima do acontecimento".
Por outro lado, o Haiti tem "problemas de má governação", que dificultaram o processo de reconstrução, e serve de "placa giratória para o comércio de droga, com destino aos Estados Unidos, nomeadamente Miami".
Cinco anos depois, ainda existem perto de 400 mil pessoas deslocadas e "as cicatrizes do terramoto ainda são visíveis", nomeadamente na capital, Port-au-Prince, relatou o presidente da AMI, que todos os anos tem regressado ao Haiti.
Fernando Nobre exemplifica que o Palácio Presidencial ainda não está habitável, a maioria dos ministérios, entre os quais o da Saúde, funciona em contentores, e a catedral de Port-au-Prince permanece em escombros, enquanto muitas casas dos bairros desfavorecidos nos arredores da capital continuam com a mesma precariedade de antes do terramoto.
A cólera, que atingiu o país no final do verão de 2010 e causou milhares de mortos, tornou-se endémica no país.
"O Haiti é um dos últimos países no índice de desenvolvimento humano e em termos de desemprego e de pobreza", afirmou, considerando que o país "regressou à sua situação crónica de país esquecido e pobre".
A recuperação do Haiti exigia, defendeu o responsável, que os investimentos prometidos "se tivessem concretizado" e uma "correta fiscalização e acompanhamento" dos trabalhos de reabilitação do país. Por outro lado, os próprios haitianos deveriam também exigir "uma transparência da governação e uma utilização correta dos fundos".
"É importante apoiar instituições locais, da sociedade civil, e desejamos que haja um reforço da cidadania. Esperamos que os processos democráticos se mantenham e não venhamos a assistir a mais ditaduras e golpes de Estado", referiu Fernando Nobre, que admitiu não vislumbrar, "para já, um futuro muito diferente para o Haiti do que aquele que já tinha antes do terramoto".
A AMI "continua empenhada" no Haiti, garantiu Nobre, que se afirma particularmente preocupado com a vulnerabilidade do país face a fenómenos meteorológicos como furacões.
A instituição portuguesa mantém parcerias com organizações não-governamentais (ONG) locais, apoiando o projeto de uma rede de rádios comunitárias que atua no alerta e prevenção de catástrofes climáticas e ainda intervenções na área da saúde nos bairros "altamente desfavorecidos" dos arredores da capital haitiana, onde as condições sanitárias são muito deficientes.
A AMI investiu neste país um total de 922 mil euros e Fernando Nobre voltará a visitar o Haiti no final deste mês para acompanhar os projetos locais e avaliar novos apoios.
Quatro dias após o sismo, equipas da AMI chegaram ao Haiti, onde prestaram assistência em hospitais na capital e, posteriormente, ficaram responsáveis por três campos de desalojados, com 10 mil pessoas. A organização portuguesa angariou mais de 1,1 milhões de euros e manteve quase 30 técnicos e 36 colaborares locais no terreno durante um ano.
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