Repartição de donativos e receitas divide redação
Onze trabalhadores do semanário satírico francês Charlie Hebdo exigiram à direção que todos os funcionários passem a acionistas, dois meses depois do atentado que matou metade da redação e fez aumentar as receitas quase 30 milhões de euros.
© Reuters
Mundo Charlie Hebdo
"Laurent Léger (jornalista) anunciou na quarta-feira numa reunião da redação ter criado um coletivo para negociar uma repartição igualitária do capital", disse à agência France Presse um dos advogados da direção do jornal, que pediu para não ser nomeado.
Numa mensagem de correio eletrónico citada pela agência, Laurent Léger precisa que o coletivo é integrado por 11 colaboradores, entre os quais o médico Patrick Pelloux e o cartoonista Luz, e que contratou dois advogados.
O jornal satírico é detido atualmente em 40 por cento pelos pais do ex-diretor Charb, morto no atentado, 40% pelo caricaturista Riss, novo diretor da publicação, ferido no ataque, e 20% por Eric Portheault, diretor-geral.
"A direção ficou a saber na quarta-feira. Tomamos nota do desejo dos funcionários de se associarem à vida do jornal, mas estamos muito longe da reflexão sobre a estrutura acionista", disse o advogado.
Segundo o mesmo, os diretores "lamentam" esta iniciativa: "Riss continua no hospital, a parte de Charb está congelada pelos herdeiros, faz lembrar um funeral em que os familiares começam a discutir quem fica com as joias da avó mal saem do cemitério".
"Todo este dinheiro está a fazer mais mal do que bem", acrescentou.
"O nosso primeiro pensamento deve ser ter um número nas bancas todas as quartas-feiras. E depois há questões fiscais para resolver, as doações são taxadas a 60%", disse ainda.
Contactado pela agência, Laurent Léger afirmou que a questão é "um assunto interno" do semanário, mas considerou que uma divisão mais igual dos fundos seria mais transparente.
"Quanto mais amplo for controlo, mais decisões serão tomadas coletivamente e isso é melhor para toda a gente", disse.
Patrick Pelloux, colunista e membro do coletivo, assegurou por seu lado que ninguém quer "repartir o bolo", mas antes ter um papel ativo numa empresa a que estão ligados para sempre pelos acontecimentos.
Antes do atentado, perpetrado a 07 de janeiro por dois irmãos 'jihadistas' que mataram 12 pessoas, o Charlie Hebdo estava à beira da falência e vendia cerca de 30.000 exemplares por semana.
Depois, o chamado "número dos sobreviventes", publicado exatamente uma semana depois do ataque, esgotou nas primeiras horas e acabou por vender sete milhões de cópias.
Além disso, o jornal recebeu numerosos donativos ao tornar-se um símbolo da liberdade de expressão depois de o 'slogan' "Je Suis Charlie" se tornar mundialmente conhecido.
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