Naufrágio: Presidente da AMI acusa comunidade de "indiferença"
O presidente da AMI, Fernando Nobre, lamentou hoje o naufrágio de mais uma embarcação no mar Mediterrâneo e acusou a comunidade internacional de mostrar "pouco interesse" em ajudar a resolver uma situação cuja tendência é agravar-se.
© Reuters
Mundo Fernando Nobre
"Infelizmente, o que aconteceu já é uma tragédia recorrente e vai acontecer muitas mais vezes. A comunidade internacional tem sido impotente, eu até diria mais, não sem tem mostrado interessada em parar o caos e a tendência é agravar", disse à agência Lusa o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI).
Uma traineira com cerca de 30 metros de comprimento e 700 imigrantes a bordo naufragou na noite de sábado a 60 milhas da costa da Líbia, tendo sido encontrados 28 cadáveres até ao momento.
Segundo os últimos dados divulgados pelas autoridades italianas, estão confirmados 28 sobreviventes e continuam desaparecidos todos os restantes ocupantes da embarcação.
Em declarações à Lusa, Fernando Nobre lembrou que diariamente chegam a Lampedusa cerca de 1.500 refugiados vindos do Médio Oriente e de África.
"O que está a acontecer é apenas a ponta de um 'iceberg' e vai tomar proporções, eu diria bíblicas. Estes naufrágios vão repetir-se a menos que as forças navais ousem entrar nas águas europeias do Mediterrâneo", alertou o responsável.
Fernando Nobre salientou que estes imigrantes são uma "mina de ouro" para os traficantes.
"O que se passa agora é que os traficantes levam as barcaças até ao limite das águas internacionais, não entram nas águas da Europa e abandonam os imigrantes, deixando-os à deriva. Uma barcaça como esta que afundou no fim de semana rendeu a estes traficantes no mínimo entre um milhão e meio e dois milhões de euros. Isso são factos", sublinhou.
O presidente da AMI recordou que o desenvolvimento em África não está na ordem do dia dos países europeus, bastando ver a percentagem do PIB que cada país da Europa destina à ajuda internacional àquele continente.
"Lembro também que está lançado o caos na Síria, no Irão, no Afeganistão, no Iraque, e mais recentemente temos também problemas na fronteira da Ucrânia com a Rússia", disse.
No entender do presidente da AMI, a Europa olha para estas situações, marca reuniões extraordinárias, mas "nada acontece".
"Mais uma vez, nós na Europa olhamos para estas questões com indiferença. Depois, fala-se em cimeiras extraordinárias quando um barco afunda mas, repito, isto é só o início. Ainda vai ser muito, muito pior", concluiu.
Segundo dados da ONU, a confirmar-se a morte dos imigrantes desaparecidos no naufrágio de sábado, desde o início do ano terão morrido em águas do Mediterrâneo cerca de 1.600 pessoas, as quais se somam às mais de 3.500 que perderam a vida em 2014.
A União Europeia vai realizar hoje uma reunião de urgência dos seus ministros do Interior e dos Negócios Estrangeiros para debater a situação.
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