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Opositor russo alerta contra o perigo de "ditador bem-sucedido"

O combate do "mundo livre" contra um "ditador bem-sucedido" foi como o opositor russo Garry Kasparov definiu hoje a situação na Ucrânia e na Rússia, denunciando a natureza do regime do Presidente russo, Vladimir Putin.

Opositor russo alerta contra o perigo de "ditador bem-sucedido"
Notícias ao Minuto

19:33 - 21/05/15 por Lusa

Mundo Garry Kasparov

"A Ucrânia é um país democrático, a Rússia é uma ditadura. Na Ucrânia pode-se ir à televisão debater e criticar quem quiser. Sim, o Partido Comunista foi proibido na Ucrânia, também o proibiria na Rússia, são como os partidos nazis na Europa", frisou Kasparov, ao responder de forma particularmente enérgica a uma questão relacionada com a natureza dos regimes de Moscovo e Kiev.

"Esses partidos são criminosos e algumas dessas pessoas apoiaram a anexação do território da Ucrânia. Na Rússia seriam mortos... Na Rússia vai-se preso apenas por sugerir que algum território da Rússia poderia organizar um referendo por mais autonomia. Muitas pessoas são presas na Rússia apenas por sugerirem isto", acrescentou esta tarde durante uma entrevista à margem das Conferências do Estoril.

Garry Kasparov, 52 anos, encerra na sexta-feira com a intervenção "Admirável Mundo Novo", título decerto inspirado na obra-prima do escritor britânico Aldous Huxley, as Conferências do Estoril 2015, evento bienal organizado pela Câmara municipal de Cascais.

Na década de 1980, o opositor russo tornou-se mundialmente conhecido quando, aos 22 anos, se tornou no mais jovem campeão do mundo de xadrez pela ex-URSS.

Após a sua retirada do xadrez profissional em 2005 passou a dedicar-se à política e à escrita. Fundou o movimento Frente Cívica Unida e aderiu à Outra Rússia, uma coligação que contestou as políticas do Presidente Vladimir Putin. Em 2008 anunciou a intenção de concorrer às presidenciais, mas não conseguiu reunir os apoios suficientes e retirou a sua candidatura.

"A Ucrânia não é um Estado-tampão, é um país independente com 45 milhões de habitantes. Estamos no século XXI, não há Estados-tampão, há países independentes e a Ucrânia é um dos maiores países europeus que luta pelo seu futuro", assinalou, quando foi sugerida a possibilidade de este país permanecer um espaço desmilitarizado entre o ocidente e a Rússia, e após Kiev ter manifestado recentemente em votação parlamentar o desejo de aderir à NATO.

O mestre de xadrez, que nasceu em Baku, capital do Azerbaijão, sublinhou ainda que o futuro da Rússia depende da sua "integração pacífica" no espaço europeu, apesar de perspetivar graves problemas nesse eventual processo.

" [A Rússia] começará a perder o seu território para a China, para o Islão radical, porque está sob grande pressão. A Rússia não sobreviverá por si própria porque tem défice de população, em relação à China é um desastre, o mesmo sucede com as regiões onde está implantado o Islão radical a sul [Cáucaso]", disse.

No ocidente, Kasparov continua a ser considerado um símbolo da oposição a Putin por diversos líderes ocidentais, mas no país o seu apoio é no entanto muito reduzido, também devido ao clima político interno que dificulta a organização das forças oposicionistas. Atualmente é membro da direção da Fundação de Direitos Humanos e preside ao seu Conselho internacional.

"O Estado russo depende do carisma de um ditador. Caso seja derrubado, o sistema colapsa. Em comparação com 1991, a dissolução da URSS, pode agora ser mais desastroso e com maiores consequências".

Pelo contrário, frisou que o Presidente ucraniano Poroshenko "foi eleito pelo povo, é uma sociedade aberta, há grandes discussões no governo. A Ucrânia lidera o processo de 'descomunização', os horríveis sinais do passado".

A descrença face aos resultados dos acordos de Minsk que impuseram uma paz frágil no leste da Ucrânia, as sanções à Rússia "que têm o problema de não ser suficientemente fortes" foram ainda aspetos assinalados pelo político e escritor, que aproveitou para anunciar o lançamento do seu próximo livro em outubro, com o título "O inverno está a chegar".

"Se Putin não for travado agora, a seguir será a Estónia e a Letónia. Será um novo patamar caso intervenha... Ainda é possível travar Putin", concluiu.

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