Grécia e UE não têm alternativa à obtenção de acordo parcial
A Grécia e a União Europeia não têm qualquer alternativa à obtenção de um acordo parcial nos próximos dias e sem 'plano B', que seria o princípio do fim da zona euro, disse hoje à Lusa um politólogo grego.
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Mundo Politólogo
"Todos os problemas vão ser abordados após o acordo que se aguarda nos próximos dias. Provavelmente será um acordo parcial, para se chegar a um acordo definitivo por volta de setembro", referiu, em contacto telefónico a partir de Lisboa, Ilias Nikolakopoulos, 67 anos, professor de Ciência política na universidade de Atenas, especialista em sociologia eleitoral e estudos de sondagens de opinião.
O académico pronunciava-se sobre as difíceis negociações que decorrem desde fevereiro entre o Governo do partido da esquerda radical Syriza e o "grupo de Bruxelas" -- que inclui os credores internacionais do país (UE e FMI) --, e os seus parceiros da zona euro, e que têm sido marcadas por declarações contraditórias das partes envolvidas.
Em causa está um acordo sobre diversas reformas que permitam a concessão da última parcela de um avultado empréstimo internacional a Atenas que em termos globais ultrapassa os 240 mil milhões de euros, quando o país se arrisca a entrar em incumprimento.
"Em relação aos aspetos concretos do acordo, existem várias possibilidades. Julgo que existirá um acordo em torno do sistema de pensões que não é sustentável mesmo a médio prazo, são precisas decisões neste campo", afirmou Nikolakopoulos.
Investigador em temas de história contemporânea da Grécia e um dos mais respeitados observadores políticos da realidade helénica, o académico recordou que Atenas também se confronta com problemas em torno da coleta de impostos ou da necessidade de uma ampla reforma da função pública, apesar de definir como prioritária a inversão do atual ciclo recessivo na economia.
"Existe ainda um segundo aspeto, é que uma parte das elites da União Europeia (UE) mais à direita pretende obter uma vitória política face ao Governo Syriza que é de esquerda, e isso não pode ser aceite. Não é uma questão económica, é uma questão política", assinalou.
"Mas penso que chegaremos pelo menos a um acordo parcial nos próximos dias. De momento não existe qualquer alternativa, e é por isso que vai haver um acordo", insistiu Ilias Nikolakopoulos.
"A própria UE não terá um 'plano B'. Existe um 'plano B' na cabeça de alguns setores conservadores, mas o 'plano B' seria o princípio do fim da zona euro. Assim, as duas partes não têm 'plano B' e estão condenadas a chegar a acordo".
O analista político assegura que os problemas mais urgentes vão começar a ser abordados pelo Syriza -- que venceu as legislativas de 25 de janeiro e formou um Executivo coligado com uma pequena formação da direita soberanista -- logo após o anúncio do acordo.
Assim, admite "concessões" e considera que a expressão "linhas vermelhas", que Atenas disse não pretender ultrapassar, pertencem mais ao "campo mediático" por se revelarem pouco concretas. "É normal que sejam feitas concessões, mas desde que não provoquem um clima de recessão. O que a Grécia precisa neste momento é de sair da recessão".
Ilias Nikolakopoulos estabelece como prioridades imediatas para os líderes de Atenas o regresso ao crescimento económico e uma ampla reforma na função pública.
"Até agora o Governo Syriza governou pouco, sobretudo negociou. É necessário que a negociação termine para que se coloque o problema da governação. O Syriza pode manter a sua atual popularidade, mas depende da forma como vai governar".
A ausência, no atual cenário político helénico, de uma força de direita ou centro-direita que surja como alternativa é outro dado que poderá beneficiar o partido do primeiro-ministro Alexis Tsipras.
"O Syriza mantém uma vantagem muito importante face às restantes forças políticas. Apesar de tudo o Governo conserva uma popularidade estável, à volta de 50% e um pouco mais para o primeiro-ministro", recordou.
"Se for percetível que não existem inimigos desse lado, é possível manter a preponderância, desde que governe de forma positiva".
O académico considera que as divergências internas assinaladas no partido da esquerda radical, e no seu grupo parlamentar, são "mínimas" e de momento "pouco importantes", mas regista um aspeto negativo que poderá influir na "governação" do Syriza e nos desafios que enfrentará nos próximos meses, afirmando que "a solidariedade internacional tem sido muito menor que o esperado. Tem sido uma deceção para o Governo. Esperava-se uma solidariedade muito mais ampla e decidida".
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