Historiadores lançam site sobre rara autobiografia escravo no Brasil
Um raro relato autobiográfico de um africano escravizado no Brasil, Mahommah Gardo Baquaqua, será lançado este mês numa página na internet em português, com material audiovisual, fontes históricas e um livro interativo.
© Wikicommons
Mundo Escravatura
"O que chamamos de Projeto Baquaqua é uma iniciativa de história pública. A ideia é trazer a história de M. G. Baquaqua para um contexto mais amplo através do uso de plataformas digitais", afirmou o coordenador do projeto, o historiador brasileiro Bruno Véras, que desenvolve a sua pesquisa na York University, no Canadá.
A página terá como público-alvo professores, alunos e interessados, segundo Véras, que realçou pretender também lançar o "site" nas línguas dos atuais países pelos quais Baquaqua passou: inglês, francês e hauçá (falada por 52 milhões de pessoas na África Ocidental e Central, afirmou o historiador.
O relato autobiográfico de Baquaqua foi escrito no Canadá e lançado em Detroit, nos Estados Unidos, em 1854, durante a campanha abolicionista no país. Apesar de citar o tempo que passou escravizado no Brasil, o livro nunca foi traduzido para português.
Com o apoio do Ministério da Cultura brasileiro e do Consulado do Canadá, Véras está a preparar a primeira edição em português do livro, ao lado do pesquisador Nielson Bezerra, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A previsão, disse, é lançá-la no primeiro semestre de 2016.
Baquaqua nasceu na região onde atualmente é a República do Benim. Trabalhava como comerciante, mas foi escravizado pelos Ashanti e embarcado para o Brasil. Na sua autobiografia, que ditou a um abolicionista, relatou a condição dos escravos no navio onde foi colocado, o seu trabalho duro em Pernambuco, as tentativas de fuga e de suicídio, a venda para o capitão de um navio no Rio de Janeiro e sobre quando conseguiu escapar, em Nova Iorque, entre outras passagens.
A edição em português do relato está a ser preparada a partir de uma tradução da versão editada pelos historiadores Paul Lovejoy e Robin Law nos anos 2000, com o texto original, cartas escritas pelo ex-escravo e novos documentos encontrados. A pesquisa está a seguir os passos de Baquaqua, com visitas a locais no Canadá, Estados Unidos e Brasil, e o objetivo é ir também à Nigéria e Inglaterra.
"Baquaqua é incomum porque a sua história tem lugar em África, depois no Brasil, e nos Estados Unidos, no Haiti e, finalmente no Canadá. Eu não conheço nenhuma outra biografia de um africano que foi escravizado em tantos países. Baquaqua ainda foi para Inglaterra e, provavelmente, voltou para África", afirmou à Lusa o historiador Paul Lovejoy, professor na York University.
Lovejoy lidera um projeto de recolha de biografias de escravizados, do qual a investigação sobre Baquaqua faz parte. O historiador canadiano afirmou que há mais um relato biográfico de um africano escravizado no Brasil, escrito por um antropólogo francês em 1840, e que "muitos outros" ainda podem ser encontrados.
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