Podemos e Ciudadanos pensam em fundar novo bipartidarismo em Espanha
As eleições espanholas de domingo podem desembocar, a prazo, num novo bipartidarismo entre as novas formações Ciudadanos e Podemos, ao bloquearem acordos de governação com os tradicionais PP e PSOE à espera que estes se afundem.
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Mundo Politólogo
"Qualquer um dos dois - PP ou PSOE - que não governe vai ter uma crise interna que será muito autodestrutiva. E isso é uma tentação para o Ciudadanos ou o Podemos, que podem dizer 'vamos deixar que se queimem e entrem em crise' para serem eles a substituí-los", disse em entrevista à agência Lusa o professor de Ciência Política Juan Ignacio Torreblanca.
O politólogo, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores em Madrid e habitual comentador do jornal El País, considera que em janeiro - após as eleições de domingo e as férias dos espanhóis - "os partidos vão decidir se vão para um sistema de quatro partidos ou se empurram, se forçam um pouco mais e Espanha acaba num novo sistema bipartidário, mas com dois novos partidos".
As mais recentes sondagens indicam uma vitória do PP, mas sem maioria absoluta, e uma luta pelo segundo lugar entre o PSOE e os emergentes Ciudadanos (centro-direita) e Podemos (esquerda radical).
O analista político considera que o Ciudadanos tem condições teóricas para fazer acordos com o PP ou com o PSOE e mesmo o Podemos poderia, em determinadas condições, aliar-se aos socialistas, mas não acredita nessa hipótese.
"Temos muitas possibilidades, mas também temos uma leitura dos novos partidos de que governar com os tradicionais é tóxico, pelo que é melhor marcar distância e deixar que o sistema [do bipartidarismo atual) acabe de se afundar", realçou.
Para Torreblanca, "o problema não é a falta de coligações, mas o facto de que se pense que governar neste momento é uma debilidade", e não algo que consiga consolidar um partido ou um líder no poder.
"Albert Rivera [líder do Ciudadanos] já disse que não quer ser como Nick Clegg [líder dos liberais] no Reino Unido, porque os liberais entraram no governo, mas rapidamente desapareceram, porque foram vistos como colaboradores do 'status quo'", salientou o especialista.
O professor marcou ainda distâncias face ao exemplo português.
"Creio que seria possível um sistema de acordos parlamentares, mas provavelmente seria mais instável do que em Portugal. Entendo que em Portugal [os partidos de esquerda] sabem que se forçarem muito, quebra-se o acordo à esquerda e no final acabam por provocar a entrada da direita. E os seus eleitores vão penalizá-los por isso", resumiu.
Em última análise, acrescentou, "o que une essa 'coligação' em Portugal é que não querem que a direita governe. É um pouco a linha vermelha".
"Em Espanha, pode ser que o Ciudadanos apoie o Partido Popular, mas precisamente por ter apoiado precisaria de - todos os dias - tornar claro no parlamento que está a controlar, seria preciso que o presidente fosse humilhado todos os dias. O preço para o Ciudadanos apoiar (o líder do PP, Mariano) Rajoy teria de ser algo muito visível todos os dias", concluiu.
Ou seja, "Rivera e (Pablo) Iglesias [líder do Podemos] acreditam que dentro de quatro anos isto pode acabar com um novo bipartidarismo entre os dois".
"Seria bastante irónico, já que dizem que o bipartidarismo é horrível, exceto se eu fizer parte de um dos dois grandes partidos (que se alternam)", sublinhou Torreblanca, para quem nem uma reformulação do PP ou do PSOE lhes poderiam valer.
"Tanto PSOE como PP poderiam mudar de líder, mas não conseguiriam mudar a 'marca'. No final, vemos que eleitoralmente são partidos que respondem a gerações mais idosas e mais conservadoras", referiu.
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