Abre novo campo de refugiados no norte de França
Um novo campo de refugiados erguido segundo as normas internacionais abriu hoje no norte de França, a 40 quilómetros do acampamento improvisado conhecido como "Selva" em Calais, onde os trabalhos de demolição prosseguem pela segunda semana.
© Reuters
Mundo Calais
Este novo campo, composto por cerca de 200 cabanas de madeira aquecidas e casas de banhos e chuveiros adequados, foi construído pela organização não-governamental Médicos sem Fronteiras (MSF) com o apoio das autoridades municipais locais. O local conta ainda com uma cozinha comunitária e uma escola.
O governo francês opôs-se ao projeto deste campo de acolhimento de migrantes, erguido de acordo com as normas internacionais, o primeiro deste género em França, que envolveu um investimento de cerca de 3,1 milhões de euros.
"Existem hoje 220 cabanas disponíveis, que podem acomodar pelo menos 1.500 pessoas. Esperamos ter, a curto prazo, 375 cabanas", com uma capacidade para 2.500 pessoas, referiu a coordenadora da MSF, Angélique Muller.
Três famílias curdas iraquianas foram as primeiras a chegar ao campo erguido em Grande-Synthe, perto de Dunquerque, na costa norte francesa, segundo testemunhou no local um jornalista da agência noticiosa francesa AFP.
Estas famílias viviam nas imediações do novo campo, num local onde cerca de mil pessoas estavam a viver em condições muito precárias, com muito pouca proteção contra o frio registado nesta época do ano.
"É um grande dia para a solidariedade humana", disse o presidente da câmara de Grande-Synthe, Damien Careme, que enfrentou a contestação do Estado francês ao projeto.
"Superei um fracasso do Estado", afirmou o autarca francês, acrescentando que não suportava a ideia de ter cerca de 75 crianças a viverem em condições de extrema precariedade.
Este novo campo vai contra o plano traçado pelo governo francês, que pretende retirar os refugiados da costa norte francesa e transferi-los para centros com regimes de segurança mais apertados.
O representante do governo no norte de França, Jean-Francois Cordet, tinha afirmado no passado mês de fevereiro: "A política do governo não passa pela reconstrução de um acampamento em Grande-Synthe, mas sim acabar com ele".
Entretanto, perto do porto de Calais, as autoridades prosseguem, pela segunda semana, com os trabalhos de demolição do acampamento improvisado conhecido como "A Selva".
Milhares de migrantes têm vivido na "selva" e em outros pequenos acampamentos ao longo da costa norte francesa na esperança de conseguirem passar de forma ilegal para o Reino Unido, através do túnel sob o canal da Mancha (Eurotúnel), em comboios ou em camiões de mercadorias. Muitos já têm família ou conhecidos no território britânico e desejam conseguir trabalho ou uma melhor educação.
A maioria dos migrantes recusa ser transferido para os contentores aquecidos colocados pelas autoridades francesas em terrenos contíguos ao grande acampamento ou para centros de acolhimento em outros lugares em França. A mudança, segundo os migrantes, pode representar o fim do "sonho britânico".
Apesar dos protestos -- nove migrantes iranianos coseram as respetivas bocas e iniciaram uma greve de fome -- cerca de dois hectares de "A Selva" foram demolidos na semana passada.
As autoridades admitem que pode demorar um mês ou mais a demolição da parte sul deste grande acampamento.
Segundo as autoridades, 800 a 1.000 migrantes viviam na parte sul deste acampamento improvisado.
Mas os números das organizações humanitárias presentes no terreno revelam uma realidade mais preocupante. Os últimos dados recolhidos por estas entidades indicaram que pelo menos 3.450 pessoas viviam só na parte sul do acampamento, incluindo 300 crianças não acompanhadas.
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