Centro-Africana: Situação está a acalmar e tiroteios desapareceram
O cônsul de Portugal na República Centro-Africana disse esta terça-feira que a situação no país começa a normalizar, adiantando que está agora concentrado tirar do país o piloto português do presidente deposto que está a ser perseguido e ameaçado.
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Mundo Cônsul
"A situação em geral está a acalmar, o tiroteio praticamente desapareceu, começam a circular pessoas e desde hoje de manhã começam a circular patrulhas francesas. A vida vai começar a normalizar-se e durante a tarde alguns pequenos armazéns do centro da cidade deverão reabrir", disse José Pereira de Sousa à agência Lusa por telefone a partir da capital da República Centro-Africana, Bangui.
O português, que reside no país há 30 anos e assume as funções de cônsul honorário de Portugal, disse ainda que de momento não há qualquer problema com as três dezenas de portugueses que vivem na República Centro-Africana, onde domingo o movimento rebelde Séléka tomou a capital e o palácio presidencial, obrigando o presidente François Bozizé a deixar o país.
José Pereira de Sousa lembrou que as casas de dois portugueses, a sua e a do piloto do avião presidencial, foram assaltadas durante as pilhagens que se seguiram ao golpe de estado, adiantando que actualmente está a tratar da retirada do país do piloto de François Bozizé.
"Ele está em segurança, mas como estava ligado ao presidente Bozizé, está a ser procurado e ameaçado e estamos a tratar de tudo" para que seja retirado para Portugal, disse José Pereira de Sousa.
O cônsul português, que é "amigo pessoal" do piloto, lamenta não ter conseguido fazer nada por ele, pois quando este lhe telefonou o próprio José Pereira de Sousa estava a ser assaltado.
"Alguém conseguiu tirá-lo do lugar onde estava e agora está em casa de um amigo e em segurança. Neste momento não há problema algum, só quer ir embora devido às ameaças de que está a ser vítima", disse.
Acrescentou que "tudo será feito" para que possa deixar o país no voo comercial da companhia Air France, que deverá sair de Bangui na quarta-feira.
"Em relação aos outros não houve problema algum, estão em suas casas e ninguém foi incomodado ou assaltado", acrescentou o cônsul, ele próprio vítima de pilhagens.
"No domingo de manhã, à chegada do movimento Séleka a Bangui, roubaram-me o carro e rebentaram as portas da casa e roubaram-nos", contou, lembrando que os portugueses viveram dias de grande tensão, agravados pela falta de electricidade, água e comunicações.
José Pereira de Sousa, que tem estado em contacto permanente com a embaixada de Portugal em Kinshasa e com o gabinete de Emergência Consular em Lisboa, sublinhou "a grande acalmia que se sente desde a manhã de hoje", adiantando que tem procurando passar uma mensagem de optimismo aos portugueses que o contactam.
"Vou dizendo as pessoas que sejamos optimistas porque penso que a partir de hoje ou amanhã a situação vai normalizar [...]. Estamos todos em contacto e vou-lhes transmitindo as instruções que recebo da embaixada de França", disse.
José Pereira de Sousa disse à Lusa que os franceses, que ao abrigo da cooperação diplomática entre países da União Europeia coordenam a protecção aos portugueses, chegaram a equacionar uma operação para a retirada de cidadãos do país, plano entretanto abandonado.
Com o abastecimento de água restabelecido, mas ainda sem electricidade e com indicações para permanecer em casa, o cônsul aponta como principal desafio conseguir carregar os telemóveis para manter a comunicação.
"As coisas vão normalizar, mas vai levar tempo não apenas pelo que destruíram, mas porque é uma mudança completa de regime", reforçou José Pereira de Sousa, considerando que este foi um golpe de estado diferente.
"Já assisti a tentativas de golpes de Estado, já assisti a golpes de Estado, como o de 2003 que deu origem ao regime do presidente Bozizé, mas nunca como agora. Foi uma selvajaria organizada. Militarmente, tinham um poder bélico muito forte, mas politicamente...vamos ver, vão tentar organizar-se", disse.
A capital da República Centro-Africana, Bangui, está em sobressalto desde domingo, quando rebeldes da coligação Séléka tomaram de assalto o palácio presidencial e assumiram o poder no país, depondo o Presidente François Bozizé, que acusam de não respeitar o acordo de paz assinado no início do ano.
O chefe de Estado deposto conseguiu escapar ao ataque e, segundo já foi confirmado, está refugiado nos Camarões, enquanto a família foi acolhida na vizinha República Democrática do Congo.
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