África supera América Latina na liberdade de imprensa pela primeira vez
A situação da liberdade de imprensa em África é melhor do que na América Latina pela primeira vez desde pelo menos 2002, revelou hoje a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
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Mundo RSF
Foi em 2002 que a organização começou a elaborar a classificação mundial da liberdade de imprensa.
Segundo o relatório deste ano dos RSF, globalmente, África é agora o segundo continente com melhor classificação, atrás da Europa, e supera a América, "fustigada pela violência crescente contra os jornalistas na América Latina", enquanto a Ásia se mantém com a pior classificação.
O norte de África e o Médio Oriente continuam a ser "a região do mundo onde os jornalistas encontram mais obstáculos de todo o tipo", indica o relatório.
Dos 180 países analisados, a Finlândia continua a ter a melhor classificação, seguida da Holanda e da Noruega.
Portugal subiu três lugares, passando da 26.ª posição, em 2015, para a 23.ª este ano.
A organização destaca a significativa melhoria da Tunísia, que subiu 30 lugares graças "à redução das denúncias contra os meios de comunicação e agressões". Também a Ucrânia subiu 22 lugares "devido à estabilização do conflito" no país.
Entre as principais quedas, destaque para a Polónia, que desce 29 postos, para o 47, "devido aos ataques contra os meios de comunicação" do "partido ultraconservador".
A "deriva autoritária" do regime do Tajiquistão faz o país cair 34 lugares, os mesmos que o Brunei, "após a instauração da 'sharia' e das acusações de blasfémia contra os jornalistas, que fizeram multiplicar a autocensura".
No entanto, as classificações mais baixas continuam a ser do Turquemenistão, Coreia do Norte e Eritreia.
Para o secretário-geral dos RSF, Christophe Deloire, "a paranoia que muitos dirigentes do mundo desenvolveram contra os meios de comunicação" tem muito que ver com o retrocesso generalizado na liberdade de imprensa.
Fustigados pelo terrorismo, conflitos armados e crises eleitorais, os jornalistas africanos viram piorar as suas condições de trabalho, com quedas notórias como a do Sudão do Sul, que desceu 15 lugares.
Mas a maior deterioração verificou-se na América, devido "às tensões políticas crescentes em vários países, alimentadas pela recessão económica e incertezas sobre o futuro".
O crime organizado continua a ser uma ameaça para os repórteres na maior parte dos países da América Central e na Colômbia, tornando difícil qualquer tipo de jornalismo de investigação.
A maior queda foi de El Salvador, que retrocedeu 13 posições, até ao 58.º lugar, uma degradação num país "carcomido pela violência dos cartéis", que começou em 2014, com a subida ao poder de Salvador Sánchez Cerén, "que acusa os meios de comunicação de participarem numa 'campanha de terror psicológica' contra o seu Governo".
O Panamá, onde "o acesso à informação continua a ser parcial e está sob o controlo do Estado", perdeu oito lugares e os RSF assinalam que "a cobertura de assuntos delicados como a corrupção leva a processos por difamação".
No entanto, os piores países do continente em termos de liberdade de imprensa para os RSF continuam a ser a Venezuela e Cuba.
No primeiro caso, a ONG assinala que "a imprensa de oposição e os meios de comunicação independentes tentam sobreviver às intimidações e manobras do Presidente, Nicolás Maduro".
Cuba situa-se no lugar 171, perdendo duas posições, com "um controlo quase total da informação por parte do regime de Raúl Castro".
A violência institucional do Equador, o crime organizado nas Honduras, a impunidade na Colômbia, a corrupção no Brasil, a concentração dos meios de comunicação na Argentina ou a cibervigilância nos Estados Unidos completam o panorama do continente.
Tal como no relatório de 2015, os RSF alertam igualmente para a deterioração da liberdade de imprensa na Europa, em nome da contraespionagem e da luta contra o terrorismo, mas também devido a uma maior concentração dos meios de comunicação e da influência do poder nos órgãos públicos.
No entanto, "a Europa é também vítima dos demónios do mundo", como demonstram os atentados contra o jornal Charlie Hebdo, em Paris, em janeiro de 2015, assinalam os RSF.
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