Moçambique está a "investir mais na guerra do que na paz"
O filósofo moçambicano Severino Ngoenha defendeu hoje que Moçambique está a investir mais na guerra do que na paz, apontando a eliminação da disparidade económica e a participação das comunidades nas grandes decisões como caminhos para estabilidade.
© Lusa
Mundo Académico
"Os recursos e meios que o país mobiliza para guerra são desproporcionalmente superiores àquilo que se mobiliza para paz", afirmou o reitor da Universidade Técnica de Moçambique, falando durante a conferência "Pensar Moçambique", organizada pelo Parlamento Juvenil em Maputo.
Associando os problemas que o país atravessa a uma crise moral, o académico moçambicano entende que a introdução de valores como a tolerância entre as forças dominantes é a principal condição para a resolução da crise política no país, alertando também para as consequências dos níveis de disparidade económica.
"A existência de uma comunidade em que poucos têm muito e mutos têm pouco leva-nos necessariamente à violência", lamentou o filósofo, observando que violência social, resultante do contraste entre a abundância e miséria em Moçambique, é a pior atrocidade e que a função da política deve ser corrigir estas discrepâncias.
Para o filósofo moçambicano, a participação das comunidades locais nos processos decisórios do país seria um caminho para reforma do sistema político, um espaço para a introdução de um modelo que facilita a interação entre as camadas mais vulneráveis e as forças dominantes.
Convidando a juventude moçambicana a "revindicar os seus direitos a si mesma", o autor de "Das Independências às Liberdades" criticou a passividade dos jovens do país, considerando que a luta por privilégios tem estado na ordem do conformismo desta camada.
"Nós não podemos modificar a nossa história mas podemos modificar o nosso futuro", declarou, apelando para uma "remoralização social" de Moçambique.
Referindo-se às autarquias provinciais, proposta da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido de oposição, o académico moçambicano reiterou que a implementação do projeto exigiria que Moçambique criasse estruturas que garantam um diálogo permanente entre o Governo central e as autoridades provinciais, impedindo que o poder local faça da província uma propriedade privada e evitando que o país caia num tribalismo.
"A democracia em Moçambique devia inspirara-se nas comunidades de base", afirmou, argumentando que só um modelo que valoriza as populações locais pode abrir espaço para que as pessoas participem na resolução dos seus próprios problemas.
Moçambique tem conhecido um agravamento dos confrontos entre as forças de defesa e segurança e o braço armado da Renamo, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados.
O principal partido de oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio
O Governo moçambicano e a Renamo retomaram em finais de maio as negociações em torno da crise política e militar em Moçambique, após o principal partido de oposição ter abandonado em finais de 2015 o diálogo com o executivo, alegando falta de progressos no processo negocial.
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