Temperatura, gás com efeito de estufa e subida do mar batem recorde
Temperaturas, subida da água do mar e emissões de gás com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2015, tornando-o o pior ano da história moderna em vários indicadores importantes, revela hoje um relatório internacional de referência.
© Reuters
Mundo 2015
Redução dos glaciares, seca, cheias -- é um negro retrato da Terra aquele que é apresentado no relatório anual sobre o estado do clima ("State of the Climate"), um documento de 300 páginas na elaboração do qual participaram 450 cientistas de todo o mundo.
"Diversos marcadores, como as temperaturas à superfície da terra e dos oceanos, o nível da subida dos mares e as emissões de gás com efeito de estufa bateram recordes estabelecidos só no ano anterior", sublinham os cientistas.
"A maioria dos indicadores das alterações climáticas continuou a mostrar uma tendência para o aquecimento do planeta", prosseguem -- uma evolução que deverá confirmar-se este ano, já que os seis primeiros meses de 2016 foram, de longe, os mais quentes do globo, segundo dados recentes dos climatólogos da NASA (agência espacial norte-americana).
O fenómeno meteorológico El Niño, particularmente forte em 2015, "exacerbou" a tendência de aquecimento global do ano anterior, acrescentam os especialistas.
"Sob o efeito combinado do El Niño e de uma tendência de longo prazo para o aquecimento, a Terra registou recordes de calor pelo segundo ano consecutivo", frisam.
A concentração de três dos principais gases com efeito de estufa -- dióxido de carbono (CO2), metano e protóxido de azoto -- "atingiu novos máximos em 2015", indica o relatório, assente em dezenas de milhares de dados registados em numerosas bases de dados independentes.
No Havai, no vulcão de Mauna Loa, a concentração de dióxido de carbono registou, em média anual, "o maior aumento desde o início dos registos, há 58 anos", levando-o a ultrapassar pela primeira vez a fasquia simbólica das 400 partes por milhão (ppm), com 400,8 ppm.
Em todo o planeta, o CO2 esteve próximo desse limite em 2015, atingindo 399,4 ppm, ou seja, um aumento de 2,2 ppm em relação a 2014.
O nível das águas dos mares atingiu o seu ponto mais alto, com cerca de mais 70 milímetros que a média registada em 1993.
O nível das águas sobe gradualmente em toda a Terra, com um aumento de cerca de 3,3 milímetros por ano, segundo o relatório, mas o aumento é mais rápido em alguns pontos dos oceanos Pacífico e Índico.
E corre o risco de acelerar nas próximas décadas, à medida que os glaciares e as calotas glaciares derreterem, ameaçando a vida de milhões de habitantes nas áreas costeiras.
O ano de 2015 foi também marcado por uma época de chuvas mais abundantes que a média e que provocou graves cheias e inundações.
Registaram-se igualmente secas severas, afetando superfícies quase duas vezes maiores em 2015 que no ano anterior (14%, contra 8% em 2014).
Uma zona particularmente sensível às alterações climáticas, o Ártico continuou a aquecer.
"A temperatura à superfície terrestre do Ártico repetiu os níveis registados em 2007 e 2011, ou seja, recordes desde o início dos registos, no início do século XX, com um aumento de 2,8 graus Celsius desde essa época", segundo os cientistas.
Pelo contrário, as temperaturas foram mais frias no Antártico.
Em todo o mundo, o recuo dos glaciares nos maciços de tipo alpino continuou pelo 36.º ano consecutivo.
As águas mais quentes agravaram a propagação das algas que afetou no verão passado uma grande área do Pacífico norte, da Califórnia até à Colúmbia Britânica, no Canadá, com "efeitos significativos sobre a vida marinha, os recursos costeiros e os habitantes que dependem de tais recursos".
A época dos furacões no Atlântico foi particularmente moderada pelo segundo ano consecutivo, também ainda em grande parte afetado pelo El Niño, embora o número de ciclones tropicais "tenha sido bem superior à média global".
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