"Um debate não faz a primavera Clinton e a campanha segue nos oito "swing states" [estados que não têm uma tendência de voto definida e que são fortemente disputados e que podem decidir uma eleição] que vão determinar esta eleição" para a Presidência dos Estados Unidos, referiu, em declarações à Lusa, o especialista em assuntos internacionais, que na próxima quinta-feira apresenta em Lisboa, em parceria com a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-UNL) Raquel Vaz-Pinto, o livro "Administração Hillary".
Para o também investigador do IPRI-UNL, o frente-a-frente de segunda-feira, o primeiro de três debates presidenciais, "não encerra absolutamente nada".
"A única coisa que este debate faz é travar o momento ascensional de Trump nas sondagens e nos 'media'. Nesse sentido, há um antes e um depois deste debate", afirmou o comentador, acrescentando que Clinton terá agora de transportar "a calma, a sensatez e a preparação" sentidas no debate para o terreno da campanha eleitoral.
No terreno, segundo Bernardo Pires de Lima, Donald Trump, "tem estado em maior permanência e com uma base, com uma mensagem mais simples que chega a um conjunto de pessoas que querem ouvir essa mensagem".
Na véspera do debate, os dois candidatos à Casa Branca surgiam empatados numa sondagem do The Washington Post e da ABC News.
No debate de segunda-feira, Trump, "um candidato fora de qualquer padrão político norte-americano", revelou uma postura completamente diferente da de Clinton.
"Foi um candidato que partiu com alguma eficácia nos primeiros 20/25 minutos, sobretudo no seu plano económico, crítico da deslocalização das empresas norte-americanas e sobretudo dos tratados comerciais assinados pelos Estados Unidos. Mas depois tornou-se um candidato sem guião, repleto de 'soundbites' que não preenchem o tempo de resposta e, portanto, ele fica sem rede argumentativa", destacou.
"O pior adversário de Trump num debate destes é ele próprio", prosseguiu o investigador, contabilizando que só nos primeiros 25 minutos do debate o magnata interrompeu 25 vezes a antiga secretária de Estado.
Quase 24 horas depois do debate, a grande questão passa por saber como Clinton irá capitalizar este sentimento de que venceu o duelo com Trump, nomeadamente numa campanha que consiga segurar a respetiva plataforma heterogénea de eleitores, mas também que capte novos segmentos de eleitores e cative o desejado "voto útil".
Para o próximo debate, agendado para 09 de outubro em Saint Louis (Missouri), Bernardo Pires de Lima antevê um Donald Trump "com mais agressividade" e que irá recorrer "a mais casos de campanha", de forma a envolver Clinton "num manto de absoluta desconfiança".
Hillary Clinton, a primeira candidata mulher de um grande partido norte-americano a concorrer à Casa Branca, é a protagonista do novo livro de Bernardo Pires de Lima e de Raquel Vaz-Pinto.
Editado pela Tinta-da-china, a obra "Administração Hillary" apresenta o percurso e o perfil de uma figura que já assumiu diversas funções no panorama político dos Estados Unidos: advogada, primeira-dama, senadora e secretária de Estado.
"Não é uma biografia de Hillary, nem é um historial do percurso dela. É um exercício de projeção do que pode ser uma administração Clinton, sobretudo no campo internacional, a partir da forma como ela olha as várias regiões do mundo", explicou o autor.
Um exercício de análise que remonta aos primeiros passos do percurso político de Hillary Clinton, como é o caso do seu discurso de formatura universitário, documento disponibilizado ao público recentemente e que já revelava "um cunho muito contestatário, muito político e também muito virado para os direitos das mulheres".
A obra está dividida em quatro capítulos: o primeiro relacionado com o legado do atual Presidente, Barack Obama, e os restantes estão centrados em três regiões Ásia-Pacífico, Médio Oriente e Europa.
"A nossa conclusão é que o entusiasmo de Hillary Clinton enquanto secretária de Estado pelo Pacífico foi cortado pelos problemas do Médio Oriente e vai ser ainda mais cortado, pensamos nós, pelo avolumar de crises europeias que vão obrigar os Estados Unidos a terem um papel mais interveniente na Europa", sublinhou.
Sem querer ser "um estender de passadeira ou um elogio vulgar" à candidata democrata presidencial, os autores da obra, segundo Bernardo Pires de Lima, quiseram escrever "sobre alguém que é melhor para o cargo" à luz do momento que se vive na política internacional, na política americana, na política europeia e até nos interesses de Portugal.
"Isso evidentemente tem uma predisposição nossa intelectual, ela é a melhor candidata e fazemos aqui um juízo de valor e queremos que ela vença a eleição", concluiu.
As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão agendadas para 08 de novembro.