Renamo diz que violações à trégua em Moçambique continuam
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) disse hoje que as Forças de Defesa e Segurança continuam a praticar violações à trégua em Moçambique e desafiou o porta-voz da Polícia a propor um inquérito independente aos incidentes.
© Lusa
Mundo Resistência
"A Renamo desafia o porta-voz da Polícia da República de Moçambique [PRM] a propor um inquérito independente sobre as denúncias que a Renamo fez", afirmou à Lusa António Muchanga, porta-voz do maior partido de oposição.
Na semana passada, a Renamo já tinha denunciado, num documento enviado à Lusa, várias "provocações em violação das tréguas declaradas" em Moçambique, entre um homicídio, raptos, roubos, intimidações e extorsão nas províncias de Sofala, Tete e Manica, implicando as Forças de Defesa e Segurança.
Na terça-feira, o porta-voz do Comando-Geral da PRM, Inácio Dina, afirmou que as autoridades não têm nenhum registo de conflitos resultantes da crise política e militar após a declaração da trégua, alertando para "a tendência de politizar" as ações policiais que visam garantir a segurança das populações.
Nas suas declarações hoje à Lusa, António Muchanga não só mantém as denúncias anteriores da Renamo, como afirma que "os desmandos continuam".
Segundo o porta-voz da Renamo, a 10 de janeiro, elementos das Forças de Defesa e Segurança estacionados na escola de Tarasonda, província de Sofala, foram a casa de um membro da Renamo, acusaram-no de possuir armas de fogo, "torturam-no e à esposa" e roubaram dinheiro e produtos alimentares.
Na província de Manica, prosseguiu, um grupo das Forças de Defesa e Segurança atacou hoje as casas de outros dois elementos da Renamo numa localidade do posto administrativo de Chiurairue e levaram as suas mulheres e cabeças de gado.
Na província de Tete, disse ainda Muchanga, este ano foram vandalizados 18 mastros e removidas bandeiras da Renamo, sobretudo no distrito de Angónia, na presença de dirigentes locais da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).
"Se o porta-voz da PRM desmente, ele que proponha uma comissão de inquérito, que pode incluir deputados da Assembleia da República, Governo, organizações da sociedade civil e jornalistas", declarou.
O porta-voz da Renamo acusa o Ministério do Interior e o Comando Geral da PRM de "não estarem a assumir as suas responsabilidades e a procurar corrigir os erros que os elementos estão a cometer no terreno", acrescentando que a polícia, para ser credível, "tem de responder aos anseios do Estado e não aos objetivos de um governo e de um partido".
Dirigiu ainda acusações aos governadores das três províncias onde têm ocorrido os alegados incidentes, por serem as únicas "a criar problemas desde a trégua", questionando se são "regiões independentes na República de Moçambique para fazer e desfazer".
Apesar da sequência de casos, a trégua mantém-se em vigor, de acordo com António Muchanga, e a Renamo continua a aguardar que o Presidente da República, Filipe Nyusi, convide os mediadores a regressar a Maputo, para que sejam retomadas as negociações de paz.
"Se ele achar que pode dispensar os mediadores, os telefonemas acabam e o povo pode não gostar", afirmou o porta-voz da Renamo, referindo-se às duas tréguas já anunciadas pelo presidente do seu partido, Afonso Dhlakama, após conversas telefónicas com Filipe Nyusi.
O líder da Renamo anunciou a 03 de janeiro o prolongamento por sessenta dias da trégua temporária declarada uma semana antes, para dar tranquilidade às negociações de paz em Moçambique.
No seguimento da trégua, Dhlakama e Nyusi acordaram igualmente um novo formato para as negociações de paz, que inclui um grupo técnico especializado para discutir o processo de descentralização, um dos principais temas da agenda das conversações.
O centro e norte de Moçambique estão a ser assolados há mais de um ano pela violência militar, na sequência da recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
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