Governo diz que quer comunicação social "livre e independente"

O ministro da Presidência do Conselho de Ministros de Cabo Verde assegurou hoje que o Governo quer uma comunicação social "livre e independente", considerando exagerada a interpretação das palavras do ministro da tutela sobre o serviço público.

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Lusa
03/03/2017 13:45 ‧ 03/03/2017 por Lusa

Mundo

Cabo Verde

A associação de jornalistas de Cabo Verde (AJOC) acusou na quinta-feira a tutela de tentar instrumentalizar o setor público de comunicação social, adiantando que vai denunciar a situação junto das organizações internacionais de defesa da liberdade de imprensa.

"O Governo vai manter o rumo de uma comunicação social transparente, independente, autónoma. Todo o Governo está empenhado nisso e acreditamos que tenha havido um exagero na interpretação das palavras do ministro da Cultura. Não há nenhuma tentativa nem de manipular nem de se intrometer na comunicação social", disse Fernando Elísio Freire.

O ministro falava aos jornalistas, na cidade da Praia, à margem de uma iniciativa sobre oportunidades de investimento entre Cabo Verde e a Índia.

Em causa estão as posições públicas do ministro da Cultura e Indústrias Criativas (MCIC), Abraão Vicente, que tutela a comunicação social, que na sua página na rede social Facebook se referiu à Empresa Pública de Comunicação Social RTC como sendo parte integrante do próprio ministério.

Na publicação da polémica, Abraão Vicente, escreveu: "O Outro lado do MCIC: RTC Canal público de comunicação social! Estamos prontos para levar a todos os cabo-verdianos o grande desfile de Carnaval em direto de Mindelo, garantimos também cobertura com reportagens em todos os outros Municípios".

O texto é acompanhado por várias fotografias da régie, incluindo uma do próprio ministro, que a Associação Sindical de Jornalistas Cabo-Verdianos (AJOC) considera, em comunicado, insinuar "um controle efetivo do trabalho dos profissionais" [...] "sugerindo que a ingerência não é apenas sobre a transmissão mas inclui, também, indicações diretas das reportagens que devem ser feitas pelos jornalistas".

A primeira publicação do ministro suscitou reações críticas de vários jornalistas, que por sua vez motivaram uma segunda publicação do ministro, na qual Abraão Vicente justificou a sua intervenção com "o novo modelo de negócio".

Abraão Vicente considerou "normais as resistências à mudança" dos "conservadores" e aludiu a uma "nova geração de jornalistas que brevemente entrará no mercado" e que saberá "compreender e acompanhar melhor os novos tempos da empresa".

A AJOC entendeu esta afirmação como "uma advertência velada, mas bem percetível" e uma ameaça de despedimento "aos jornalistas que não concordam com tentativas de manipulação", repudiando o que considera mais uma tentativa "de instrumentalização do setor público da comunicação social cabo-verdiana".

Fernando Elísio Freire sublinhou a ideia de que a comunicação social cabo-verdiana "é livre e independente" e que a tutela é "institucional" e "'soft'".

"Não há tutelas de mérito sobre a comunicação social. O Governo está empenhado em ter um serviço público de qualidade, mas também independente", disse.

Questionado sobre se o lugar de Abraão Vicente no executivo está em risco, Fernando Elísio Freire disse acreditar que o ministro da Cultura "tem a solidariedade de todos os membros do Governo".

"Está no Governo e quem escolhe os membros do Governo é o primeiro-ministro", acrescentou.

 

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