Liberdade de imprensa. Dos melhores aos piores, onde ficamos nós?
Uma coisa é certa: liberdade total de imprensa não existe em lado nenhum. Portugal não está nada mal na 'fotografia', sendo um dos países com maiores condições para os jornalistas exercerem a sua profissão de forma livre e independente.
© Reprodução Freedom House/KAL
Mundo Dia Internacional
Assinala-se hoje o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, data proclamada pelas Nações Unidas em 1993. A este propósito, e aproveitando os mais recentes dados sobre o tema - 'Freedom of the Press 2017' da Freedom House -, damos-lhe a conhecer alguns factos.
A grande conclusão deste relatório é que a liberdade de imprensa, em termos globais, baixou para os níveis mais baixos em 13 anos, graças tanto às novas ameaças aos jornalistas e meios de comunicação nas principais democracias, como a novas medidas de repressão contra os media independentes em países autoritários como a Rússia e a China.
Detalhando, sabia, por exemplo, que 45% da população mundial vive em territórios sem direito à liberdade de imprensa? O que corresponde a 3,4 mil milhões de pessoas. Por outro lado, apenas 13% da população mundial vive numa sociedade com liberdade de imprensa, ou seja, num ambiente onde a cobertura "é robusta", a segurança dos jornalistas é "garantida", a intrusão estatal nos assuntos dos media é mínima e a imprensa não está sujeita a pressões legais ou económicas pesadas. Os restantes vivem em ambientes com liberdade de imprensa parcial, variando cada país consoante, principalmente, a sua situação política concreta.
O site Freedom House disponibiliza um mapa mundo com as pontuações de cada país, numa escala de 0 a 100 (se 0 significa total liberdade de imprensa, o 100 significa ausência de). Dele podemos tirar várias conclusões. Primeiro, não há nenhum país ou região com total liberdade de imprensa, contribuindo para isso, claro, os constrangimentos económicos.
Europa e Estados Unidos figuram os continentes com mais países onde os jornalistas podem fazer o seu trabalho mais livremente. No que à Europa diz respeito, Portugal é dos que apresenta pontuação mais próxima do zero, atrás apenas dos países nórdicos (Noruega, Suécia, Finlândia), da Estónia e da Suíça. Ainda no nosso continente, países como Itália, Polónia, Moldávia, Roménia, Ucânia, Sérvia, Bulgária, Grécia, Hungria e Bosnia Herzegovina têm esse direito parcialmente garantido, é uma 'liberdade mais ou menos'.
No continente asiático e no africano, a liberdade de imprensa é apenas uma miragem. Na Ásia, apenas a Mongólia, a Índia, o Afeganistão, o Paquistão, o Nepal, a Indonésia e o Bangladesh apresentam alguma, ainda que pouca, liberdade de imprensa. Os restantes países, são dos que apresentam piores cenários para os jornalistas trabalharem. No continente africano, destaque para Angola, onde segundo este relatório não há liberdade de imprensa. Sudão, Etiópia, Eritreia, Líbia e República Democrática do Congo estão, contudo, em pior situação, com valores muito próximos dos 100. Nas Américas, o México, a Venezuela, o Equador e Cuba são dos piores países para se ser jornalista.
Os piores dos piores
A Coreia do Norte e o Turquemenistão são os países com piores condições, ou sem condições nenhumas, para os jornalistas exercerem a sua profissão de forma livre e independente. Seguem-se o Uzbequistão, a região da Crimeia, Cuba, a Guiné Equatorial, o Azerbaijão, o Irão e a Síria.
De salientar que, no ano passado, pelo menos 57 jornalistas foram assassinados durante o exercício da sua profissão: 19 jornalistas morreram na Síria, dez no Afeganistão, nove no México e cinco no Iraque. Quase todos eram jornalistas locais. Os dados são da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Outras conclusões a reter. EUA com liberdade em declínio
O relatório em causa assinala que nunca, em 38 anos de relatórios globais, se discutiu tanto a liberdade de imprensa nos Estados Unidos como se discutiu em 2016 e nos primeiros meses de 2017, devido à eleição de Donald Trump para presidente do país.
A sua eleição e a sua forma de dirigir os destinos dos EUA levaram a que a liberdade de imprensa, considerada forte, caísse, tendo esse ponto de viragem começado ainda durante a sua campanha eleitoral, com Trump a dirigir-se de forma agressiva aos jornalistas acusando-os de fazerem 'fake news'.
Na Turquia, Etiópia e Venezuela, o mau-estar político e/ou social têm servido de pretexto para novas repressões contra quem manifesta opinião independente ou contrária à força no poder, assinala o relatório.
'Líderes políticos que exigem respeito mas que não oferecem nenhum'
O Freedom House dá ainda destaque a quatro líderes políticos mundiais mas pelas piores razões. São quatro líderes que exigem respeito e que não oferecem nenhum, pela forma como se dirigem à comunicação social. Consegue adivinhar quem ocupa estas quatro cadeiras? Donald Trump (Estados Unidos), Recep Tayyip Erdoğan (Turquia), Jacob Zuma (África do Sul) e Robert Fico (Eslováquia).
"Enfrento uma guerra contra os media. Eles estão entre os mais desonestos seres humanos na terra", afirmou Trump a quem lhe é reconhecido um ódio 'especial' aos jornalistas. Erdogan, na mesma linha, disse uma jornalista mulher: "Meta-se no seu lugar... vergonhosa militante disfarçada de jornalista". Recorde-se que a Turquia foi considerada a maior prisão de jornalistas, onde mais de 100 profissionais foram detidos em 2016, após a tentativa de golpe de Estado. No mundo inteiro, em 2016 estavam 348 jornalistas detidos, de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras. No mundo inteiro, em 2016, estavam 348 jornalistas detidos.
"Discuti com os media que eles nunca foram eleitos, nós fomos e podemos dizer que representamos a população", afirmou o líder sul-africano. Robert Fico, líder da Eslováquia, chegou a dirigir-se a jornalistas com adjetivos como "prostitutas sujas anti eslovacas".
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com