O amor entre uma ex-militante da Frente Nacional e um refugiado
Béatrice e Mokhtar vivem momento de felicidade apesar das dificuldades.
© Reprodução / BBC
Mundo Calais
A história de amor entre Béatrice Huret, uma mulher que esteve filiada na Frente Nacional, e o refugiado Mokhtar está a correr mundo. Apesar de agora a mulher garantir que a sua filiação foi feita a pedido do seu anterior companheiro, que morreu em 2010, falou abertamente sobre a relação à BBC e realçou que o amor vence tudo.
A mulher de 45 anos foi casada com um dos polícias enviados para Calais para impedir que os refugiados não entrassem no terminal do Canal da Mancha.
Béatrice, apesar de o marido ser racista e ter pedido para ela se militar na Frente Nacional, garante que nunca foi contra os refugiados e revelou ter-se preocupado com “todos esses estrangeiros, que pareciam tão diferentes e estavam a entrar em França”.
Béatrice estava um pouco distanciada da realidade, mesmo vivendo a cerca de 20 quilómetros da ‘Selva’, como era apelidado o campo de refugiados de Calais e, um dia, um pedido de boleia para esse local mudou por completo a sua vida.
Quando chegou ao campo de refugiados, a mulher apercebeu-se das condições desumanas em que aquelas pessoas viviam. “Senti-me como se estivesse numa área de guerra. Era como um campo de guerra. Alguma coisa fez ‘clique’ e disse para mim mesma que tinha de ajudar aquelas pessoas”, recorda.
A partir desse momento, Béatrice começou a levar comida e roupas para as pessoas que estavam no local e incentivou dezenas de pessoas a fazerem o mesmo. Foi em Calais que conheceu Mokhtar, um professor que fugiu do Irão, onde era perseguido por se ter convertido ao cristianismo e onde até a sua família lhe virou as costas.
O homem foi um dos que costurou os lábios em protesto das condições precárias do campo de refugiados. “Eu sentei-me e ele gentilmente veio oferecer-me um chá. Foi um pouco chocante. Foi amor a primeira vista”, relembra, falando de um “olhar terno”.
O Google tradutor foi o melhor amigo de ambos, já que ele não falava francês e ela não sabia inglês, o que complicou a comunicação. Mas o amor cresceu de tal forma que Béatrice convidou Mokhtar e alguns amigos a viver em sua casa, contra muitos dos seus amigos e familiares.
Mokhtar e três amigos deram dinheiro à mulher para que ela comprasse um barco e disfarçaram-se de pescadores para tentarem chegar à costa inglesa.
O medo tomou conta da mulher e com razão, já que começou a entrar água no barco às 6h30 da manhã, quando estavam a aproximar-se da costa inglesa.
“O mais novo estava a vomitar de medo, o mais forte estava a fumar um cigarro atrás do outro e a dizer 'bem, se temos que morrer, temos que morrer, é a vida' e Mokhtar tentava tirar a água de dentro do barco e telefonava para os serviços de emergência ao mesmo tempo”, conta.
Os quatro foram levados de volta para um campo de refugiados depois de serem resgatados por um helicóptero e um barco de resgate. Só aí houve um novo contacto com Béatrice.
A mulher foi visitar o seu amado na semana seguinte, no norte de Inglaterra. Agora, o refugiado já pediu asilo mas o casal garante que não faz planos para que nada "possa doer se os planos não derem certo".
“Se o nosso relacionamento acabar, acabou. Eu devo ao Mokhtar uma linda história de amor, a mais bonita da minha vida”, confessa.
A mulher ainda foi detida por acusação de tráfico de pessoas e teve de pagar uma fiança, mas ficou sob supervisão judicial e tem de se apresentar semanalmente à polícia. Em causa poderão estar 10 anos de prisão e uma multa de 750 mil euros.
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