Migrações: Presidente da Câmara de Paris condena "acampamentos indignos"
A presidente da Câmara de Paris instou hoje o Estado francês a acolher os mais de 2.000 migrantes, na maioria africanos e afegãos, instalados em "acampamentos indignos" na capital, quando está em debate no parlamento a política migratória.
© Reuters
Mundo Anne Hidalgo
Trata-se de um tema ultrassensível, e o texto em discussão é criticado tanto por organizações não-governamentais (ONG), que temem violações aos direitos dos estrangeiros, como pela direita francesa, que o considera demasiado frouxo.
A questão da imigração foi um dos temas da campanha presidencial do ano passado, marcada pela passagem à segunda volta da líder da extrema-direita, Marine Le Pen.
O país, que tinha em 2014 perto de seis milhões de imigrantes, registou em 2017 um pouco mais que 100.000 pedidos de asilo (mais 17% que em 2016) e concedeu asilo a 36% dos requerentes.
"Assistimos hoje ao reaparecimento de acampamentos" no nordeste de Paris, lamentou a autarca socialista, Anne Hidalgo, numa entrevista à agência de notícias francesa AFP.
Nesses acampamentos, surgidos há já vários meses, a situação é "totalmente indigna", apesar da instalação "de sanitários e pontos de acesso a água", denunciou.
"Se não fizermos nada, daqui a duas semanas eles serão 3.000. Esta situação não pode continuar. Peço que estas pessoas sejam acolhidas", insistiu a presidente da Câmara parisiense, que se queixa de "não obter resposta" do Estado, com o qual as fricções sobre esta questão têm sido regulares desde o início da crise migratória em França.
O acolhimento pressupõe encontrar locais para albergar os migrantes, até poderem passar para o novo equipamento do Estado, que tem 750 lugares na região parisiense de Ile-de-France.
A última evacuação de grande envergadura em Paris remonta ao mês de agosto e envolveu quase 2.500 pessoas.
"[Enquanto espero], decidi ir todas as sextas-feiras (a um campo), para que a questão continue a ter visibilidade", acrescentou Anne Hidalgo.
Das centenas de migrantes instalados junto ao canal Saint Martin, perto da praça da República, a maioria são afegãos.
No acampamento da Villette, mais para nordeste, onde se encontram sobretudo migrantes eritreus e sudaneses, "um determinado número de pessoas vai e volta para descansar de Calais", porto do norte de França onde as forças da ordem impedem qualquer reconstituição de acampamento e que é onde se concentram os candidatos à imigração clandestina para o Reino Unido, afirmou a autarca.
Na quarta-feira, três especialistas dos direitos humanos da ONU expressaram preocupação com a "situação desumana" desses migrantes.
"Os migrantes, independentemente do seu estatuto, têm direitos humanos, sem qualquer discriminação. Ao privá-los dos seus direitos, a França viola as suas obrigações internacionais em matéria de direitos humanos", afirmou o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes, Felipe González Morales.
O projeto de lei sobre a imigração visa reduzir a duração da instrução do pedido de asilo e aumentar, através de um endurecimento da retenção, o encaminhamento até às fronteiras, nomeadamente dos migrantes abrangidos pelo Regulamento de Dublin (batizados como "dubliners"), aqueles que já passaram por outro país europeu e nele se registaram e que para lá serão reenviados.
"Mentimos aos franceses, dizendo-lhes que esta será uma crise migratória passageira e que vamos solucioná-la com a lei sobre a imigração", sustentou Anne Hidalgo.
"Sejamos pragmáticos. Coloquemos as pessoas que dormem nesse acampamento num abrigo e, então, olhemos para as situações", senão os "'dubliners' não virão para os centros, esconder-se-ão" e reconstruirão acampamentos de rua, alertou a autarca.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com