Rússia retrocedeu nas liberdades, mas tem jovem geração de ativistas
A Rússia registou um retrocesso nas liberdades básicas nos últimos seis anos, mas também assiste ao surgimento de uma geração de jovens ativistas, disse hoje à Lusa o responsável pela Amnistia Internacional no país.
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Mundo AI
"Em termos gerais, e devo lamentá-lo, a situação dos direitos humanos na Rússia está a agravar-se. Em 2012, quando Vladimir Putin regressou à presidência no Kremlin para o seu terceiro mandato, aprovaram-se uma série de leis restritivas, e algumas foram aplicadas", assinalou Ivan Kondratenko, responsável pela secção da Amnistia Internacional (AI) na Rússia desde junho de 2017.
O responsável da organização de direitos humanos enunciou a lei sobre agentes estrangeiros, a lei sobre propaganda homossexual, as leis sobre as ONG, e que abrangem a internet, e a legislação anti-extremista como exemplos desse retrocesso, que se destina "não a perseguir pessoas mas sobretudo que pretendem restringir algumas liberdades".
Ivan Kondratenko denota um país "cada vez mais isolado", em particular após a anexação da Crimeia em 2014, a aplicação de sanções ocidentais e as críticas da comunidade internacional, uma situação "utilizada como pretexto para censurar as vozes dissidentes".
O "pretexto do isolamento internacional" e a "retórica dos inimigos" tem justificado a pressão dirigida aos 'media' ou a organizações independentes e ativistas, sustenta.
"Por exemplo, recentemente verificou-se uma pequena repressão sobre organizações vocacionada para a prevenção da Sida na Rússia. Alguns foram declarados agentes estrangeiros, ajudavam toxicodependentes e outros grupos vulneráveis para prevenir a expansão da Sida".
O responsável da AI deteta neste comportamento uma "abordagem conservadora", dominante no discurso político oficial.
"Não querem reconhecer que é uma questão importante que deve ser reconhecida, e perseguem as pequenas ONG que se demarcam do discurso conservador e religioso, e ajudam toxicodependentes, prostitutas, etc...".
No entanto, reconhece "pequenos progressos", a retoma de "algum diálogo", e fornece como exemplo a lei sobre agentes estrangeiros e dirigidas às ONG, "que ainda não foi aplicada este ano de forma tão sistemática como sucedeu em 2017".
Apesar de prevalecer o "ataque a liberdades básicas, como a liberdade de reunião, liberdade de expressão, liberdade de associação que atingem as ONG", o responsável da AI na Rússia reconhece que "a situação é melhor" em comparação com o que existia na União Soviética.
"O espaço de liberdade é maior que na ex-URSS, mas o espaço de liberdade está a ser reduzido", sublinha.
"Assistimos a um declínio nos últimos seis anos, mas também assistimos a uma nova geração de jovens, de ativistas, que vão para as ruas, protestam, já não têm tanto medo. Em paralelo a estas restrições, também vemos alguma esperança", que se encontra em Lisboa para participar num encontro internacional das secções desta organização.
De acordo com a ONG russa Memorial, existem atualmente no país cerca de "100 presos de consciência", a forma como são definidos os detidos por questões políticas, prossegue o ativista.
Ivan Kondratenko reconhece que a sua secção "não tem capacidade" para seguir todos os casos. "Temos apenas um escritório, em Moscovo, onde trabalham seis pessoas", revela.
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