A denominada luta biológica está a ser intensificada nesta primavera, concretizada pela Associação Portuguesa da Castanha - RefCast, com sede em Vila Real, em coordenação com a Direção-geral de Alimentação e Veterinária (DGAVE), direções regionais de agricultura do Norte, Centro e Madeira e pelos municípios onde estão a ser feitas as largadas.
A agência Lusa acompanhou uma dessas largadas na aldeia de Friões, concelho de Valpaços, onde recentemente foi detetado um foco de infestação da praga que afeta a produção de castanha.
José Gomes Laranjo, presidente da RefCast e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), tirou de uma mochila os parasitas importados de Itália, acondicionados em pequenos tubos e envolvidos em gelo, retirou a tampa e esperou que os insetos fossem saindo para as folhas do castanheiro infestado.
Até ao final de maio, vão ser efetuadas 700 largadas, em cerca de 90 concelhos, num investimento que ronda, segundo o responsável, os 700 mil euros.
"Isto é uma luta que ultrapassa os domínios da propriedade privada e é uma luta em que a unidade territorial mínima é o concelho", salientou.
O método mais eficaz de combate à vespa é a luta biológica que consiste na largada dos parasitoides 'Torymus sinensis', insetos que se alimentam das larvas que estão nas árvores e são capazes de exterminar a vespa.
Entre os produtores de castanha a preocupação é crescente.
"Esta praga pode diminuir drasticamente a produção. Se não forem tomadas medidas urgentes e rápidas a produção pode cair na ordem dos 70 a 80% em certos lugares", afirmou Dinis Pereira, da aldeia de Rio Bom e que produz e transforma este fruto da montanha.
De acordo com este produtor, "se não forem dados apoios, a redução da produção levará a um maior despovoamento e ao abandono das terras". "Vamos ter um abandono completo, isto vai ficar uma reserva de caça", sustentou Dinis Pereira.
Segundo o vice-presidente da Câmara de Valpaços, António Medeiros, a produção de castanha representa um volume de negócios na ordem dos 60 milhões de euros para o concelho.
E é pela importância económica que representa para as famílias, que o município do distrito de Vila Real se associou, desde a primeira hora, à luta contra a praga.
O autarca disse que a câmara assumiu o custo das largadas "que forem necessárias" para o concelho.
"Nós temos que fazer tudo mas os agricultores também têm que fazer e houve muita coisa que os agricultores não fizeram (...) Há agricultores que continuam a ir buscar material vegetativo seja onde for desde que seja barato e, por causa disso, a praga chegou mais rápido", salientou.
A dispersão da praga já era esperada quando foi detetado o primeiro foco de infestação em território nacional, em 2014.
"A vespa não está fora de controlo porque nós não podemos andar à frente dela. Agora, nós vamos controlando a dispersão dela e, em função da dispersão da vespa, nós vamos atacando esses focos, exatamente no ano seguinte. E é assim que tem que ser feito", referiu José Gomes Laranjo.
De acordo com o responsável, numa situação de controlo da praga, as reduções de produção podem atingir os 10 a 15%. No entanto, sublinhou, se nada for feito, as reduções de produção podem ultrapassar os 90%.
Segundo José Gomes Laranjo, a luta biológica é um "processo complicado" que leva "quatro a cinco anos a ser evidente".
Os dados experimentais mostram que, no final do primeiro ano, há apenas cerca de um por cento de galhas que estão parasitadas, o que, na sua opinião, demonstra "a dificuldade do processo no momento inicial".
Depois de quatro a cinco anos, prevê-se que já deve haver cerca de 70 a 80% das galhas parasitadas.
José Gomes Laranjo afirmou que Portugal está a "atuar com a rapidez possível e que a praga deixa".
O objetivo é impedir que se atinja o "estado calamitoso" verificado em outros países da Europa, como Itália, onde esta praga provocou quebras brutais na produção.