Paraquedistas são o "ás de espadas" do Exército, 62 anos depois
A última vez que saltaram em combate real foi durante a guerra colonial, mas os militares paraquedistas portugueses são hoje "o ás de espadas" do Exército, defendeu o comandante do regimento daquela tropa especial, que comemora hoje 62 anos.
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País Comandante
"É um trunfo, é um ás de espadas mas que só usamos quando for necessário. Se não precisarmos de usar, não usamos. Sabem fazer, estão prontos e podem ser empregues quando for preciso, em situações de combate real ou até no apoio às populações em alturas, por exemplo, de catástrofe, em que o acesso pelas vias normais seja impedido", exemplificou o comandante do Regimento de Paraquedistas.
Em entrevista à Lusa, o coronel Hilário Peixeiro sustentou que o "lançamento em paraquedas para determinado território é uma ação de recurso mas que se pretende que seja decisiva, envolvendo mais risco" que é avaliado em função do objetivo pretendido.
A última vez que os militares paraquedistas portugueses saltaram em combate real "foi durante a guerra colonial" mantendo hoje um corpo de cerca de mil militares da especialidade, disse o coronel. No último ano foram formados 200 boinas verdes, adiantou, um número que demonstra que "tem havido uma diminuição" da atratividade.
A falta de candidatos é um problema que "é transversal" às Forças Armadas e não é específico daquela tropa especial, frisou, considerando que "não tem tanto a ver com as condições do regimento e mais com as perspetivas de carreira, com os vencimentos que vão auferir, com a conjuntura nacional".
"Temos tido dificuldades porque o ritmo de saída de militares que estão a concluir os seus contratos e não podem renovar [limite de seis anos] tem sido superior ao ritmo de entradas", precisou.
Em consequência da diminuição dos efetivos, têm diminuído também os saltos de paraquedas realizados na formação e em treino operacional. No último ano, foram realizados 7.600 saltos, em treino e em formação e também no âmbito de exercícios a nível nacional e internacional, adiantou.
O facto de aquela tropa especial estar a ser empregue no teatro de operações da República Centro Africana (RCA), sob a égide da ONU, tem sido contudo um fator de atração para o regimento, notando-se mais interesse por parte dos jovens, disse.
"Tem servido um pouco de chamariz para o nosso pessoal. O facto de terem a perspetiva de aplicarem aquilo que lhes foi ensinado na formação em operações reais é mais apelativo para um militar do que a perspetiva de entrar para as Forças Armadas e ter quase a certeza que não vai aplicar nada em termo reais e que vai fazer um percurso em quartel", sublinhou.
Atualmente estão 130 militares paraquedistas na missão da ONU, na RCA, que serão substituídos também por paraquedistas [do batalhão de São Jacinto, Aveiro] entre finais de agosto e início de setembro.
Num teatro de operações complexo e em que já estiveram envolvidos em confrontos, com troca de tiros, os militares paraquedistas na missão na RCA e aqueles que estão em preparação estão conscientes do risco com "um sentimento de autoconfiança", disse.
"Nós sabemos que é uma condicionante de uma operação militar real, haver combate e confronto, mas temos autoconfiança e certeza que o treino que temos em quartel e em território nacional nos dá as capacidades para combater bem, e manter a nossa capacidade física e moral. Observamos com serenidade, obviamente com esperança que não aconteça nada aos nossos camaradas que estão lá mas sabemos que pode acontecer", disse.
Entre abril e maio, militares portugueses na missão na RCA estiveram envolvidos em trocas de tiros na capital da RCA, Bangui.
O coronel Hilário Peixeiro frisou que o treino operacional que é proporcionado aos militares vai sendo adaptado às informações que são recolhidas nos teatros de operações.
Como exemplo, em termos de logística, um dos "ensinamentos" mais importantes para o sucesso da missão e a segurança dos militares foi "perceber a melhor forma de manter os equipamentos e o armamento" em condições num clima de extremo calor e humidade, disse.
O programa das comemorações do Dia dos Paraquedistas -- que assinala a criação, em 23 de maio de 1956, do então Batalhão de Caçadores Paraquedistas, começa às 07:30 no Regimento, em Tancos, Vila Nova da Barquinha, com um voo livre de balões de ar quente, seguindo-se uma cerimónia de homenagem aos mortos, uma cerimónia militar e uma demonstração terrestre e aeroterrestre.
À tarde, está prevista uma demonstração de saltos em paraquedas e uma apresentação cinotécnica (cães de guerra), na cerimónia que será presidida pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte.
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