Pedrógão: Minifúndio dificulta retoma das atividades agrícola e florestal
Um reduzido número de produtores tenta vencer o desânimo um ano após o incêndio que eclodiu na zona de Pedrógão Grande, onde o minifúndio continua a ser a principal dificuldade na retoma das atividades agrícola e florestal.
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País Produtores
José Crespo, de 70 anos, praticava uma pequena agricultura nas terras que possui no município de Pedrógão Grande.
Uma vez por semana, ia ao mercado da vila, no distrito de Leiria, "vender os sobrantes" das suas plantações.
Esse entusiasmo acabou no dia 17 de junho de 2017, quando o fogo lhe ceifou áreas de pinhal, eucaliptal, olival, pomar e diversos campos cultivados que totalizam oito hectares.
O corte planeado de parcelas florestais "ia ajudando à subsistência", afirma à agência Lusa o ex-motorista da antiga Junta Autónoma de Estradas, residente no lugar de Casal do Cume.
"Não tive apoio nenhum à produção, desanimei e tive de parar", sublinha.
José Crespo teve ajuda do Estado à recuperação de um armazém. Contudo, "ainda não chegou a autorização para reconstruir", o que o leva a pedir aos vizinhos para guardarem as suas colheitas de batata temporã.
"O programa 2020 é só para o grande agricultor e o grande produtor florestal", critica, ele que se sujeitou a vender toda a madeira queimada a preços baixos, "por umas cascas de alho e quase por favor".
O reformado continua a fazer alguns trabalhos agrícolas "só para não estar parado" e prevê que "ninguém se vai fixar no interior", designadamente nos concelhos mais devastados pelos fogos.
Aos 78 anos, Dirce Nunes e o marido, Manuel Nunes, têm pensões de reforma que totalizam menos de 600 euros por mês.
O casal mantém alguma atividade agrícola, em Mó Grande, a seis quilómetros da sede do concelho.
A mulher já retomou a banca de venda no mercado de Pedrógão. Em cada segunda-feira, Manuel, de 82 anos, conduz a carrinha carregada de produtos frescos.
"Sabemos o que comemos", congratula-se Dirce. A família "vai vivendo, mas com muito esforço".
Eles tinham também vários animais, que foram dizimados pelo fogo. A idosa está apreensiva com o futuro da agropecuária e atividades afins na região.
"Ninguém anda para a frente. Isto acaba tudo, não é?", questiona-se, durante a conversa com a Lusa.
Na freguesia de Álvares, concelho de Góis e distrito de Coimbra, onde um segundo incêndio deflagrou no dia 17 de junho, logo após aquele que começou no município de Pedrógão Grande, predomina igualmente a pequena propriedade.
Para o presidente da Junta de Freguesia, Victor Duarte, "a melhor aposta" para superar os problemas ligados ao minifúndio é a reunião dos proprietários numa Zona de Intervenção Florestal, para permitir uma gestão conjunta.
De outra forma, numa freguesia onde "os terrenos são todos de particulares" e de dimensão reduzida, estes "não se tornam atrativos", defende.
Victor Duarte diz que "ainda há quem faça" uma agricultura de subsistência, associada nalguns casos à criação de gado caprino na zona.
"Mas não passa disso e cada vez menos", já que a proliferação de javalis e veados na Serra da Lousã origina prejuízos que levam as pessoas a desistirem das produções, segundo o autarca, eleito em outubro de 2017 numa lista do Grupo de Cidadãos Eleitores Independentes por Góis.
Na Pampilhosa da Serra, concelho do distrito de Coimbra que tem sido frequentemente flagelado pelo fogo nas últimas décadas, José Martins tem apostado na plantação de medronheiros.
Na sua opinião, este arbusto da flora mediterrânica "deve integrar a reflorestação das áreas ardidas", podendo contribuir para travar a desertificação.
"A floresta também precisa de solidariedade", reitera José Martins, que possui áreas de medronhal que totalizam 50 hectares e onde o incêndio de 15 de outubro de 2017 causou danos elevados.
Mais resistente ao fogo, o medronheiro emerge como alternativa às espécies de crescimento rápido, nas áreas florestais ardidas em 2017, e pode também contrariar a agonia de uma agricultura familiar assente no minifúndio.
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