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Extinguir fogos em Portugal e Espanha custa mais de 1 mil milhões por ano

A organização internacional WWF alertou hoje que o custo da extinção de incêndios florestais na Península Ibérica ultrapassa mil milhões de euros anuais, mas nos orçamentos "dificilmente há espaço para prevenção" e os fogos não se resolvem com água.

Extinguir fogos em Portugal e Espanha custa mais de 1 mil milhões por ano
Notícias ao Minuto

12:18 - 05/07/18 por Lusa

País WWF

"O custo da extinção de incêndios em Espanha e Portugal excede em muito os mil milhões de euros a cada ano. Hoje, a maior parte dos fundos alocados às florestas nos orçamentos regionais e nacionais estão destinados à extinção", salienta um trabalho da associação.

O relatório intitulado "O barril de pólvora do noroeste", apresentado hoje em Lisboa e em Madrid, analisa as causas e as circunstâncias em que ocorreram os grandes incêndios florestais ibéricos de 2017, principalmente a norte do Tejo, em Portugal, e na Galiza e Astúrias, em Espanha, que causaram mais de uma centena de mortos e mais de 500 mil hectares ardidos.

Os ambientalistas explicam que a União Europeia, através da Política Agrícola Comum (PAC), financia medidas de apoio à extinção, bem como a restauração e a reflorestação pós-incêndios, no entanto, "nos orçamentos públicos, dificilmente há espaço para a prevenção real e efetiva que vacine contra os incêndios".

De acordo com os números apresentados pela WWF, em Espanha, o custo anual em extinção chega a mil milhões de euros, contra 300 milhões investidos em prevenção.

Em Portugal, refere, a extinção custa cerca de 75 milhões de euros, contra 20 milhões gastos em prevenção e, "além do desequilíbrio exorbitante, as medidas que são financiadas como prevenção priorizam a construção ou condicionamento de estradas e trilhos florestais, aceiros, pontos de água ou bases para meios aéreos".

A WWF questiona se "os políticos realmente acreditam que, com essas medidas, os grandes incêndios podem ser evitados".

Para os técnicos da organização, os responsáveis políticos têm enfrentando o problema dos incêndios da mesma forma há 40 anos, mas a situação "mudou radicalmente" já que antes a floresta tinha vários usos, havia gado, colhia-se lenha, a paisagem era diversificada e incluía mais variedade de espécies e as alterações climáticas não estavam tão presentes.

Por isso, a solução então era apostar num serviço de extinção eficaz, descrevem, realçando que, atualmente, "as receitas do passado não são válidas" e a solução para os grandes incêndios, de mais de 500 hectares, "não é adquirir mais hidroaviões, mais camiões ou criar mais pontos de água".

"Os grandes incêndios não se extinguem com água, mas com planeamento territorial e desenvolvimento rural. É necessário dar um futuro económico, ambiental e demográfico às áreas que ardem há já vários anos", defendem.

Os ambientalistas apontam o exemplo de Espanha, o país que "mais investe em extinção por hectare e que possui um dos melhores sistemas de extinção em todo o mundo", mas onde "as estatísticas refletem como, apesar disso, a tendência é que a cada ano haja incêndios maiores e mais perigosos".

Por isso, defendem que os incêndios de 2017 devem representar um "ponto de viragem dos governos" na luta contra os fogos.

Se assim não for, "viveremos episódios muito perigosos, de verdadeira emergência civil, ao longo de todo o ano, com vítimas mortais incluídas", alertam, especificando que "não se trata de drenar mais recursos da extinção para a prevenção, mas de mudar completamente o modelo".

Para a WWF, a estratégia de combate a incêndios deve abordar as causas e comprometer-se com a prevenção real, ou seja, "reduzir a alta taxa de acidentes, tornar o território menos inflamável e mais resiliente às alterações climáticas, realizar planeamento territorial, designar usos, intervir em propriedades abandonadas, implementar políticas fiscais para incentivar usos compatíveis com a conservação da natureza, desenvolver políticas de desenvolvimento rural que estabeleçam população, criem emprego, e apostem no gado extensivo".

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