É difícil ligar mudança climática a verão atípico, mas secas continuam
O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos diz ser difícil relacionar as temperaturas baixas e a nebulosidade deste verão com as mudanças do clima, mas que é certo que ondas de calor e secas vão manter-se e agravar-se.
© Getty Images
País Filipe Santos
"É difícil fazer a relação entre as condições atípicas do verão deste ano, com temperaturas mais baixas, nebulosidade e até chuva, e as alterações climáticas, já que a análise do clima se baseia em períodos de, pelo menos, 30 anos", disse à agência Lusa Filipe Duarte Santos.
O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa explicou que, quando se analisam características como a temperatura ou a pluviosidade num período curto, os especialistas falam de variabilidade climática e não de alterações climáticas.
À pergunta se a situação de meses de junho e julho, sem longos períodos de calor, se deve às mudanças do clima, insiste: "É muito diferente do que temos tido nos últimos anos, mas isso não significa por si só que é uma mudança climática. O que podemos dizer que é muito provavelmente uma consequência da alteração climática foram as ondas de calor e a seca muito prolongada que afetou Portugal em 2016 e 2017".
A observação do que aconteceu nos últimos 50 anos "leva a concluir que a chuva dos anos entre secas não é suficiente para manter o equilíbrio", já que a média da precipitação anual de cada década "tem estado a decrescer e isso é muito significativo", salientou o também presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS).
Filipe Duarte Santos apontou que "as ondas de calor estão a tornar-se muito mais frequentes em todo o mundo" e, numa análise mais prolongada, a precipitação acumulada anual está a diminuir, mas ano a ano varia muito.
Assim, as condições meteorológicas deste verão "são positivas para a floresta portuguesa a curto prazo", e "praticamente" não houve incêndios, "mas ninguém pode garantir" que, em 2019, ou dentro de dois anos, não haja outra vez uma seca, ondas de calor, ignições frequentes e mais fogos, resumiu o investigador.
As alterações climáticas, com ondas de calor e pouca chuva, resultando em secas e criando condições para a ocorrência de incêndios florestais, têm levado os especialistas e organizações internacionais a chamar a atenção para a necessidade de mudar comportamentos de modo a reduzir as emissões de dióxido de carbono e limitar o aquecimento global.
A falta de chuva e as temperaturas elevadas criam condições propícias aos grandes incêndios, principalmente no sul da Europa, como no ano passado em Portugal e Espanha, por exemplo, mas este ano países do norte europeu, como a Suécia ou a Finlândia, enfrentam problemas mais associados ao Mediterrâneo, como os fogos florestais ou escassez de água.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com