Elétrico de Alfredo Gama saiu do museu para mais uma volta, aos 116 anos
Há muitos anos que passaram a peça de museu, mas hoje alguns dos elétricos históricos que circulavam na capital noutros tempos voltaram aos carris, entre eles o 283, pelo qual o guarda-freio Alfredo Gama tem um carinho especial.
© Museu da Carris
País Histórico
O 283 começou ao serviço da Carris em 1902, mas 116 anos depois ainda está aí para as curvas. É o maior da parada e aquele que apresenta mais diferenças face aos elétricos atuais, e por isso faz as delícias de quem o vê passar.
Os 10 bancos que tem, em madeira, estendem-se a toda a largura do veículo e dão para quatro pessoas. Do lado de fora, existem barras onde se agarrava quem não queria pagar pela viagem.
Este elétrico é amarelo e não tem portas nem janelas. Em dias de chuva, a farda do guarda-freio passava a ser um oleado com capuz, que ajudava a evitar constipações.
Ainda assim, é o favorito de Alfredo Gama, de 59 anos.
Há 41 anos que trabalha na Carris. Já foi auxiliar, limpa-vias, esteve na área oficinal, foi guarda-freio e motorista. Desde 1994, também dá formação aos novos condutores de autocarros e guarda-freios de elétricos.
"Tive um grande orgulho em conduzir um elétrico que eu também já tinha conduzido, até a fazer carreiras turísticas. É a cereja no topo do bolo conseguir fazer um desfile com, entre aspas, o meu elétrico", disse aos jornalistas.
A última vez que o conduziu em serviço, recordou, "foi para aí em 1991".
"Eu dou formação e esporadicamente ele sai, quando temos ações de formação. Agora, em termos de serviço, já há muitos anos que não tinha o prazer e o privilégio de conduzir o que, para mim, é o elétrico mais bonito da frota da Carris", sublinhou.
Alfredo Gama explicou também que este elétrico é diferente dos restantes porque "não tem sistema pneumático, por isso os freios são todos manuais".
"Daí aquela alavanca que tem, que parece que estamos a dar corda ao elétrico. É fazer acionar os travões mecânicos", assinalou, acrescentando que esta característica "requer, da parte do guarda-freio, uma certa capacidade física e uma agilidade um bocadinho acima da média" por forma a parar "o veículo antes de ter algum acidente na via pública".
O desfile de elétricos em Lisboa, apelidado de "Passeio com história", contou também com modelos como o 444, o 330, o 508, o 535 e o 802. O passeio demorou cerca de uma hora. O percurso consistiu em ir de Santo Amaro (onde se localiza o Museu da Carris) à Praça da Figueira, e voltar.
Para pôr estes veículos centenários na rua foi preciso "fazer as revisões necessárias para garantir que mecanicamente e eletricamente todos eles funcionam em pleno", explicou o presidente da Carris, Tiago Farias.
Os desfiles ocorreram às 11h00 e às 16h00. O responsável fala num "sucesso enorme", uma vez que as perto de 250 inscrições disponíveis esgotaram "quase de imediato, parecia um concerto de rock".
Quanto a novas oportunidades de poder circular pela baixa de Lisboa a bordo de uma peça de museu, Tiago Farias apontou que "a Carris tem todo o interesse em vir a repetir este evento, porque é um evento que traz as pessoas para as ruas, viver aquilo que é a cidade".
"Com certeza que iremos fazer novas edições", afirmou.
Este desfile decorreu no âmbito da Semana da Mobilidade em Lisboa. Até sábado vai também ser possível visitar o Museu da Carris gratuitamente.
Também presente no desfile, o vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, Miguel Gaspar, sublinhou que esta é "uma forma de celebração" dos 100 anos da Carris, gerida pela autarquia: "É com uma grande satisfação que vemos os sorrisos na cara das pessoas quando os elétricos estão na rua a mostrar o que era a Carris antes, mas também o que vai ser a Carris no futuro".
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