Cavaco garante não recear "exame da consistência" das posições assumidas
O antigo Presidente da República Cavaco Silva reiterou hoje que sempre considerou que a "prestação de contas" é um imperativo de quem exerce cargos públicos, garantindo não recear submeter-se ao "exame da consistência intertemporal das posições publicamente assumidas".
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País Ex-presidente
"Sempre considerei que a prestação de contas aos portugueses é um imperativo de quem exerce altos cargos públicos", afirmou Cavaco Silva, durante a apresentação do segundo volume das suas memórias políticas, intitulado "Quinta-feira e outros dias", que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Cavaco Silva, que tem sido criticado por revelar conversas privadas que manteve enquanto chefe de Estado, nomeadamente por dirigentes socialistas, notou que no segundo volume das suas memórias existe um anexo em que enumera "os livros de prestação de contas" da sua ação enquanto ministro das Finanças e do Plano, primeiro-ministro e Presidente da República.
"São 23 publicações, 23. Nunca receei ser submetido ao exame da consistência intertemporal das posições publicamente assumidas, é algo que muito prezo", sublinhou.
No segundo volume das duas memórias, fica completa a "prestação de contas" das funções que exerceu enquanto Presidente da República, entre 2006 e 2016, uma década que "encerra muitos ensinamentos para o futuro", explicou.
"Foi um período particularmente difícil para Portugal e para os portugueses e um dos mais críticos da nossa democracia", admitiu, notando, contudo, que o livro agora publicado incide, particularmente, sobre o seu segundo mandato em Belém, "um tempo marcado pela vigilância da 'troika', constituída pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Central Europeu".
Ao longo de mais de 500 páginas, são relatados os diálogos diretos que manteve com os primeiros-ministros - Passos Coelho (PSD) e António Costa (PS) - nas reuniões de quinta-feira, "os quais foram registados na hora", o que garante "total fiabilidade", acrescentou.
Com o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho na plateia, Cavaco Silva recordou as "crises políticas graves" por que passou o executivo de coligação PSD/CDS-PP.
"Os partidos que compõem as coligações procuram distinguir-se do seu parceiro e afirmar-se autonomamente perante a opinião publica, esquecendo, às vezes, os interesses comuns. Em momentos particularmente difíceis, que são relatados neste livro, os líderes do PSD e do CDS-PP, Passos Coelho e Paulo Portas, souberam encontrar o caminho do superior interesse nacional", elogiou Cavaco Silva, reconhecendo que, embora tivesse discordado várias vezes das opções do Governo de coligação, "o certo é que o país evitou um segundo resgate financeiro e reencontrou uma trajetória de crescimento económico e de criação de emprego".
À saída, aos jornalistas, Cavaco Silva disse que este deverá ser o seu último livro de memórias políticas.
"Penso que está dito aquilo que era importante dizer para que as gerações futuras possam estar apetrechadas com o conhecimento (...), para evitar que Portugal volte a cair numa situação de bancarrota", referiu.
Entre as cerca de duas centenas de pessoas que assistiram à apresentação do segundo volume de "Quinta-feira e outros dias" estiveram, além de Passos Coelho, o antigo Presidente da República Ramalho Eanes, as antigas ministras das Finanças Manuela Ferreira Leite e Maria Luís Albuquerque, a ex-presidente da Assembleia da República Assunção Esteves, e os deputados do PSD Hugo Soares e Miguel Morgado.
Vários elementos da sua equipa em Belém, como o chefe da Casa Civil Nunes Liberato e o antigo assessor David Justino, que é, atualmente, um dos vice-presidentes do PSD, estiveram também presentes.
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