O movimento que eclodiu em França dos Coletes Amarelos levou a quatro semanas de protesto que foi subindo de tom a cada fim de semana. Nos últimos dois, em Paris, o movimento – que começou por ser dos camionistas contra o aumento do preço de combustíveis – extravasou as reivindicações iniciais. O resultado? Cargas policiais, confrontos, centenas de detidos e seis mortos.
Paralelamente, por cá, são vários os eventos criados na rede social Facebook cujo objetivo é imitar o protesto francês. A principal ‘Vamos Parar Portugal como Forma de Protesto’ conta já com 13 mil aderentes e pretende paralisar o país na próximo dia 21, de hoje a uma semana.
Interrogada pelo Notícias ao Minuto, a direção nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) disse que “tem conhecimento dos factos” e garante que está a “acompanhar a situação”, como, de resto, frisa, sempre faz.
Refere a PSP que esse acompanhamento é feito “em termos preventivos, para qualquer movimento ou manifestação que se desenrolem na sua área de responsabilidade e que, pela sua dimensão e dinâmica, possam por em causa a segurança e tranquilidade públicas”.
E, assim sendo, esta autoridade assegura um “planeamento contingencial” que se baseia em cenários plausíveis, orientando a PSP o seu dispositivo de segurança de acordo com a avaliação realizada e “tendo em vista uma resposta capaz e eficaz para todas as situações que possam surgir nestes contextos”, esclarece a direção nacional.
Na página do Facebook, a organização justifica o protesto com o facto de Portugal ser "um dos países de recebe menos" e que, ao mesmo tempo, "paga mais impostos".
E, por isso, lê-se na descrição da iniciativa, o objetivo é "dizer basta ao aumento dos combustíveis, portagens, IVA, salário. E tudo o resto que está mal". A acontecer, a lógica do protesto em Portugal, ao contrário do que se passou em França, não tem um objetivo único. Ou seja, a acontecer, esta manifestação 'à portuguesa' começa exatamente por aquilo em que se transformou em França: um protesto alargado, com um leque variado de reivindicações.
Organização do protesto ligada à extrema-direita?
Apesar de não se poder afirmar que o protesto do dia 21 de dezembro esteja a ser organizado pela extrema-direita portuguesa, a verdade é que há sites como o 'Direita política' - um site associado também à divulgação de 'fake news' - a promover a manifestação.
Também o PNR (Partido Nacional Renovador) está a divulgar, na sua página de Facebook, os vários eventos de paralisação no dia 21. Além do 'Vamos Parar Portugal como Forma de Protesto’, o partido tem como evento na sua página o 'Bloqueio A1 DIA 21 De Dezembro Às 7 Da Manhã'.
Seis mortes em França
Até ao momento, na sequência dos protestos dos Coletes Amarelos, morreram seis pessoas, todas elas em acidentes durante bloqueios de estradas.
A primeira vítima ocorreu em 17 de novembro, durante o primeiro sábado de manifestações, perto de Pont-de-Beauvoisin, no leste do país, quando um manifestante foi atropelado por um veículo conduzido por um motorista em pânico.
Dois dias depois, uma pessoa morreu atropelada por uma carrinha e, nas primeiras horas do passado dia 2, no segundo fim de semana de protestos, um condutor chocou com um camião em Arles, no leste.
Uma mulher de 80 anos morreu dias depois de ser ferida por uma granada de gás lacrimogéneo em Marselha e, no passado dia 10, uma mulher de 20 anos morreu quando carro que conduzia colidiu com um camião.
Resposta do governo francês vai parar Coletes Amarelos?
Perante o aumento da violência sobretudo em Paris, o governo francês recuou no imposto dos combustíveis e, dias depois, Macron anunciou um conjunto de medidas. Entre estas um aumento em 100 euros do salário mínimo (atualmente 1.498 euros ilíquidos), anulação do aumento dos impostos as reformas inferiores a 2.000 euros ou a decisão de não tributar as horas extraordinárias.
Entretanto, o governo francês apelou esta quinta-feira aos Coletes Amarelos para que não se manifestem no sábado para que as forças policiais se pudessem concentrar os seus esforços na busca por Cherif Chekatt, o alegado autor do atentado ao mercado de Natal em Estrasburgo, entretanto abatido pela polícia.
A revolta dos Coletes Amarelos já "foi ouvida" e foi "respondida", insistiu Griveaux, em referência às medidas anunciadas na segunda-feira pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, para aumentar o poder de compra dos assalariados e reformados mais carenciados.