Ferreira Duarte soube do furto de Tancos pelas notícias, um dia depois
O coronel Ferreira Duarte, responsável por uma das unidades que faziam a vigilância dos paióis de Tancos, disse hoje que soube do furto de material de guerra pelas notícias, no dia seguinte.
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País Audições
Numa audição na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, o coronel afirmou que soube do furto, ocorrido no dia 28 de junho, "pelas notícias". O furto só foi divulgado à comunicação social um dia depois, em 29 de junho, o que levou o PS a manifestar estranheza.
O deputado socialista Diogo Leão observou que se o furto ocorreu no dia 28 seria de esperar que os comandantes das unidades responsáveis pela vigilância dos paióis fossem imediatamente avisados, no sentido de serem tomadas medidas.
O Regimento de Infantaria n.º 15, sedeado em Tomar, era uma das unidades responsáveis por deslocar militares para fazerem a vigilância aos agora desativados paióis nacionais de Tancos, mas à data do furto, 28 de junho de 2017, a unidade que tinha essa missão era a de Engenharia n.º 1, em Tancos, sublinhou o coronel Ferreira Duarte.
O militar desvalorizou o facto de ter sabido em primeiro lugar pelas notícias, manifestando-se convicto de que "quem tinha de saber, soube imediatamente", acrescentando que a unidade de Engenharia n.º 1 foi informada.
"Nessa altura não era eu que estava responsável pelos depósitos. A responsabilidade do regimento 15 era de março e abril e depois setembro e outubro. Tomámos conhecimento oficialmente e de seguida recebemos diretivas específicas para melhorar e aumentar o pessoal", afirmou.
Questionado pelos deputados, o coronel Ferreira Duarte disse que estava ciente das falhas e deficiências das instalações físicas dos paióis, como descreveu o deputado do BE João Vasconcelos, e que por isso mesmo recomendava "cuidados redobrados" aos militares que destacava para as rondas.
"Estávamos conscientes do que estava a suceder e tentávamos compensar passando essa informação a quem ia cumprir a missão para terem cuidados redobrados. Essa informação era do conhecimento do escalão superior", declarou.
As patrulhas podiam ser apeadas ou montadas, realizadas fora do perímetro, em horas que variavam e num percurso em que os militares avaliavam o estado da vedação e a visibilidade para dentro das instalações, referiu, frisando que todos os elementos recolhidos eram enviados à Brigada de Reação Rápida.
"Sempre que a equipa que fazia a missão relatava problemas, seja o mato alto, a questão da videovigilância, todas as deficiências encontradas... era um procedimento normal. Se fosse algum incidente específico fazia um relatório imediato, via Regimento, à Unidade que delineava o plano de vigilância", precisou.
O militar rejeitou a ideia de que o comando do Exército soubesse das deficiências das instalações dos paióis e que mesmo assim nada fazia para as melhorar, pondo em risco a segurança, sublinhando que "alguma coisa estava a ser feita".
"Nós víamos o muro a ser feito. Estava previsto o SICAV [sistema de vigilância eletrónico]. Não andava com a velocidade que gostaríamos", disse, acrescentando que "a manta é curta".
Quanto à falta de efetivos, o militar notou que é um problema "transversal" às unidades do Exército e "se calhar às Forças Armadas" e sustentou que, perante os recursos que tem, o Exército tem de fazer opções, assumindo os riscos que daí decorrem.
"Agora, com as tarefas acrescidas que temos com o apoio ao combate aos incêndios e emergência, continuamos a fazer as tarefas, mas temos de ser imaginativos", admitiu.
Evitando dar opiniões pessoais, o militar frisou que o Exército é o primeiro interessado em saber como aconteceu e não foge das responsabilidades, reconhecendo que "alguma coisa correu mal".
O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017.
O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
Entre os detidos está o diretor da PJM e um civil (que já foi militar), principal suspeito da prática do furto, encontrando-se ambos em prisão preventiva, num caso que levou à demissão de Azeredo Lopes do cargo de ministro da Defesa e cujas implicações políticas levaram à criação de uma comissão parlamentar de inquérito.
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