Cova do Vapor é a zona de Lisboa mais afetada pelas alterações climáticas
O concelho de Almada, entre a Cova do Vapor e Fonte da Telha, é a zona da Área Metropolitana de Lisboa (AML) mais afetada pelas alterações climáticas, disse hoje o coordenador do PMAAC-Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas.
© Lusa
País AML
"O troço da Cova do Vapor à Fonte da Telha é brutalmente crítico, é muito crítico. Tenho muita preocupação com a comunidade da Cova do Vapor. Também se coloca o problema do bairro do Torrão, com populações vulneráveis que vivem em condições de grande precariedade, o que implica uma resposta a vários níveis", disse Sérgio Barroso à agência Lusa à margem de uma conferência internacional sobre vulnerabilidades da Área Metropolitana de Lisboa (AML) às alterações climáticas, que decorreu hoje no Fórum Luísa Todi, em Setúbal.
Para o coordenador do PMAAC da AML, entre outras medidas de mitigação das alterações climáticas na região, é necessário "um compromisso do Governo na reposição do cordão dunar através da alimentação artificial".
"Na praia de São João da Caparica temos de consolidar o sistema dunar e, a sul da Costa de Caparica, até à Fonte da Telha, temos que manter aquele sistema dunar intacto. Temos de recuar os parques de campismo - que estão em situação de grande perigosidade e que já são afetados regularmente por fenómenos de inverno de galgamento e inundação -, tal como já está previsto no Plano de Ordenamento da Orla Costeira Alcobaça/Cabo Espichel", advertiu.
"As alterações climatéricas colocam-nos dois desafios. A primeira, a mitigação, reduzir a emissão de gases com efeitos de estufa. E, por isso, é que é tão importante esta ambição da AML na questão da mobilidade, de reduzir as emissões de gases de estufa. A outra dimensão é de resposta às alterações climáticas. Mesmo que consigamos reduzir as emissões, o clima está em mudança e vai mudar até ao final do século, quer na redução da precipitação, quer no aumento das temperaturas, ocorrência de eventos extremos, com precipitação muito intensa, ondas de calor, subida no nível das águas do mar", acrescentou Sérgio Barroso.
Segundo o coordenador do PMAAC, este plano, com grande envolvimento da comunidade científica, da administração central e local, técnicos de diversos setores, empresários e de diversas associações, propõe-se "refletir sobre as medidas e os projetos que se terá de adotar e concretizar para que o sofrimento que as alterações climáticas nos vão gerar seja o menor possível, para que as pessoas e atividades económicas estejam menos expostas às cheias e os impactos das cheias não sejam tão severos".
Para Sérgio Barroso, "há uma grande preocupação de antecipar a resposta aos problemas, de planear essa resposta e garantir uma intervenção feita com justiça territorial e social", com o objetivo de "reduzir o impacto de questões relacionadas com o galgamento costeiro, recuo da linha de costa, para que as comunidades costeiras sejam menos afetadas por essas mudanças".
Na sessão de abertura da conferência, o presidente da AML e da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, defendeu que as alterações climáticas "não são uma questão do futuro, mas do presente" e não constituem um problema do planeta, mas dos seres humanos", que, disse, "não estão preparados para uma subida de temperatura média de dois ou três graus".
Por sua vez, a anfitriã da conferência, Maria das Dores Meira, presidente da Câmara de Setúbal, lembrou que "não basta termos um discurso sobre alterações climáticas e, depois, ficarmo-nos pelas palavras".
"É preciso promover medidas que, por exemplo, reduzam a pressão da circulação automóvel, em particular nas grandes cidades; é preciso ter uma política que promova a mobilidade em transportes públicos; é preciso ter uma política de ativa mitigação de alterações que, já todos o percebemos, são inevitáveis", defendeu.
Na conferência realizada no Fórum Luísa Todi, um grupo de cerca de 20 cidadãos exibiu cartazes contra as dragagens no estuário do Sado e manifestou-se com algumas gargalhadas críticas durante o discurso de abertura da presidente da Câmara de Setúbal, dando a entender que as preocupações ambientais manifestadas pela autarca estavam desajustadas das práticas do município setubalense.
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