"Isto é avassalador", disse hoje à agência Lusa Otávio Mateus, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, acrescentando: "Temos agora dados para Portugal daquilo que existe no outro lado do planeta".
Quase metade dos mamíferos extinguiram-se e a cifra chega a dois terços no caso dos mamíferos de grande porte.
De acordo com o estudo, a biodiversidade atual de mamíferos é apenas "uma fração" do que foi há um milhão de anos.
Das 77 espécies de mamíferos fósseis em Portugal, apenas 41 (54%) ainda existem. Outras 19 espécies, como por exemplo a hiena, desapareceram do que hoje território de Portugal e 11 extinguiram-se totalmente, como o elefante-antigo (Palaeoloxodon antiquus).
A fauna e o ambiente na península ibérica era, segundo o especialista do Departamento de Ciências da Terra, parecido com o que existe ainda hoje em África. "Já havia humanos e conviviam com esta fauna toda, mas o aparecimento de humanos veio contribuir para esta extinção", afirmou Otávio Mateus.
Os resultados saíram de uma tese de mestrado em paleontologia de Dário Estraviz López, que na segunda-feira defendeu o trabalho com 19 valores, de acordo com um comunicado hoje divulgado.
"Estamos perante uma enorme extinção de mamíferos no último milhão de anos, que em paleontologia não é assim muito tempo", afirmou o orientador.
Os dados permitem também avaliar a qualidade do registo fóssil em Portugal, que é "muito boa" no capítulo dos grandes mamíferos e poderá atrair outros investigadores a Portugal.
"Para as aves é muito insuficiente, mas para os mamíferos é muito boa a qualidade do nosso registo", frisou.
O registo fóssil é considerado excelente, muito completo e informativo, especialmente devido à existência de fósseis em grutas.
"Há menos de um milhão de anos existiam espécies ancestrais de rinocerontes, elefantes, hipopótamos e leopardos em Portugal, todas extintas hoje", escreve Otávio Matos no texto em que são apresentados os resultados do estudo.
O padrão encontrado na investigação é muito semelhante ao verificado no resto da Europa e um milhão de anos é "muito rápido em termos geológicos".
A extinção coincide com "a proliferação de humanos", o que deve ser motivo de reflexão, defendeu em declarações à Lusa o especialista, que desenvolve trabalho no Museu da Lourinhã.
A tese resulta de uma parceria entre a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Évora.
Foi feita uma análise bibliográfica que contemplou 212 trabalhos científicos de 33 jazidas em Portugal continental, que permitiram catalogar fósseis de 174 espécies de répteis, anfíbios, aves e mamíferos terrestres.