"O rio Tejo não tem falta de água, ponto. O rio Tejo não tem falta de água. Onde existe falta de água - existe de facto - é num afluente do rio Tejo, na margem direita, que é o rio Pônsul”. As palavras são do ministro do Ambiente e da Ação Climática que, na semana passada, assegurou que o caudal do rio não constituía uma preocupação. Mas, esta segunda-feira, João Pedro Matos Fernandes esclareceu que a afirmação não estava completa.
Não existe falta de água no Tejo "que é gerido por Portugal, para cá da barragem Cedillo. A quantidade de água que tem estado no rio é em tudo comparável com este período". Já do lado de Espanha, "a montante de Cevilho há um volume de água pequeno, num Tejo que não é gerido por nós, e que tem consequência em dois dos afluentes desse mesmo rio, Pônsul e Sever - que, sendo braços da barragem, estão numa situação de estiagem".
Confirmou o ministro do Executivo de Costa que "é um facto que com esta redução de caudais o rio vai tendo menos água. E, como é comum neste processo, já este mês vai reunir-se a comissão que acompanha a bacia do Tejo para determinar, se assim for necessário, um conjunto de restrições à utilização da água do Tejo, o que é comum".
"Claro que estou preocupado com o que acontece no Tejo", vincou Matos Fernandes, que aproveitou a oportunidade para destacar que "se há rio com o qual este Ministério teve preocupação [na anterior legislatura] foi com o Tejo". "Lembremo-nos que há dois anos tivemos um fenómeno gravíssimo de poluição e as barragens portuguesas passaram a ter um caudal que é independente do que vem de Espanha. A partir daí fizemos uma grande operação de limpeza do Tejo", continuou.
O ministro esclareceu ainda que, no último trimestre do ano hidrológico, que terminou em outubro, aconteceu algo inédito. "A questão não é tanto o volume de água que passou para o lado de cá num curto período de tempo, que este ano foram 960 hectómetros cúbicos e no ano passado foram 1600. O que aconteceu, e foi um erro de gestão, é que nunca se tinha esvaziado a barragem de Cedillo sem a compensar".
"O Governo português soube sobre Cedillo quando já estava a descarregar". Para justificar, Espanha argumentou que não recorreu à barragem de Alcántara porque "está num nível que se baixar compromete o abastecimento a Cáceres".
O Tejo estará, nos próximos tempos, dependente "da Convenção de Albufeira e da forma como ela é gerida. Chegados a este momento, não há a mais pequena dúvida que sendo o Tejo o rio que vem de Espanha para Portugal, temos de, num afluente, o mais próximo possível da fronteira, construir uma barragem para regularizar os caudais a partir de Portugal".
O Ministério do Ambiente "conhece bem o rio Tejo e tudo foi feito para que não tenha problema na qualidade da água", enfatizou Matos Fernandes, acrescentando que o caminho passa por "esperar que Espanha tenha um governo com quem se consiga de facto discutir, que tenha legitimidade política e que complete os trabalhos técnicos que nunca deixaram de ser feitos ao longo deste tempo".