No passado dia 5 de novembro Portugal ficou em choque. Tinha sido encontrado um recém-nascido, ainda com vestígios do cordão umbilical, completamente desnudo, dentro de um caixote do lixo na Avenida Infante D. Henrique, perto da estação fluvial, em Santa Apolónia, e junto à tão badalada discoteca Lux, em Lisboa.
Na altura, fonte da PSP explicou que o bebé, a quem entretanto foi dado o nome de Salvador, foi transportado para o Hospital Dona Estefânia e, posteriormente, encaminhado para a Maternidade Alfredo da Costa, onde até hoje se mantém, a tomar antibióticos, apesar de o seu estado de saúde ser, segundo os médicos, estável.
Três dias depois de o bebé ser encontrado, a 8 de novembro, a Polícia Judiciária anunciou que tinha detido a mãe do recém-nascido depositado no ecoponto. Até ao momento, foi confirmado oficialmente que se trata de uma jovem de nacionalidade cabo-verdiana de 22 anos, que vivia na rua há vários meses, e que escondeu a gravidez de toda a gente. Sara Furtado fez o parto na via pública.
Já os meios de comunicação social avançam com mais pormenores. Na noite desta sexta-feira, o jornal Expresso publicou uma entrevista com a advogada de Sara. Ana Maria Lopes revela que a jovem, que está em prisão preventiva, lhe confidenciou que o pai do filho foi um dos clientes com quem manteve relações sexuais. “Os homens pagavam-me mais por sexo sem proteção”, terá descrito Sara à advogada.
Em setembro, a TVI fez uma reportagem sobre sem-abrigo e Sara, que na altura estaria grávida de sete meses, foi uma das entrevistadas. Na altura, garantiu que não tinha problemas com álcool e drogas e depositava as esperanças numa vida melhor. “Eu não quero esta vida. Quero estudar, quero trabalhar. Quero sair dessa vida”, disse, acrescentando que o seu sonho era “cuidar da mãe”. Apesar de a gestação já avançada, aquando da entrevista, ninguém reparou que Sara estava grávida.
Mais de uma semana depois da detenção de Sara, o que permanece em segredo são as razões para abandonar o filho daquela forma.
Muitos são os que não lhe desculpam o crime. Muitos são também os que apontam o dedo ao Estado por ter falhado com esta jovem.
A advogada de Defesa já pediu respeito e diz que tudo vai ser esclarecido. Um grupo de outros três advogados fez um pedido de ‘habeas corpus’, recusado, esta quinta-feira, pelo Supremo Tribunal de Justiça. Cabo Verde vai dar apoio jurídico. O Presidente Marcelo pediu compreensão.
Entretanto, enquanto o julgamento não acontece, Sara, que está indiciada de homicídio qualificado, permanece em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Tires.
Já o recém-nascido permanece internado e continua a antibióticos por prevenção. Ao que tudo indica, já foram sinalizadas várias famílias disponíveis para receber Salvador.
O ‘herói’ que afinal não salvou o bebé
Durante dias, Manuel Xavier foi tratado como ‘herói’. A ele atribuíram os louros de salvar o recém-nascido colocado no lixo, em Santa Apolónia. Foi entrevistado, levado a estúdio, deram-lhe uma casa e até o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o quis cumprimentar, com um abraço e palavras de gratidão.
Contudo, segundo a SIC, quem retirou Salvador do contentor amarelo foram outros dois sem-abrigo: João Paulo e Rui Machado. A verdade é que no vídeo do momento do resgate, partilhado nas redes sociais, vê-se estes dois homens a retirarem o recém-nascido do lixo, enquanto Manuel Xavier aparece atrás do contentor ao telefone.
Confrontado com a situação, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de parabenizar todos. “Pelos vistos, houve várias fases do processo, não foi um só que encontrou e que tirou. Estão todos de parabéns e a todos deve ser naturalmente testemunhada a nossa gratidão”, disse o chefe de Estado, em declarações às televisões, acrescentando que irá receber e agradecer a todos “os que encontraram, os que comunicaram, os que tiraram”.