Em declarações à agência Lusa, Fátima Messias, coordenadora da Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (Feviccom), referiu que "em termos laborais não se notaram mudanças" e "da parte das empresas não houve alteração de procedimentos que evitassem que novos acidentes venham a acontecer".
Por sua vez, o vice presidente da Assimagra - Associação Portuguesa dos Industriais dos Mármores, Granitos e Ramos Afins, Miguel Goulão, disse, por escrito, à Lusa, que "o acidente de há um ano foi um caso isolado que ganhou atenção mediática pelas trágicas consequências que teve e as quais levaram a que as entidades competentes iniciassem um processo de escrutínio pelo qual há muito o setor pugnava".
Fátima Messias assegurou, por seu lado, que "os problemas mantêm-se", incluindo "as distâncias em relação às pedreiras, o isolamento e o facto de estas estradas darem sinais de estarem deficitárias, com rachas e tudo".
Para a dirigente sindical tudo indicava "que depois daquele drama se tivesse feito o levantamento não só das pedreiras abandonadas, mas também que se criassem condições para que pessoas ou veículos passem em segurança", mas "não aconteceu nada disso".
A Assimagra garante que está a desenvolver uma campanha para o setor, como aliás já tinha avançado à Lusa em março deste ano.
"Consiste, essencialmente, no esforço adicional de sensibilização que está a ser feito para mobilizar as empresas e os trabalhadores para as questões da segurança", de acordo com Miguel Goulão.
O dirigente associativo adiantou ainda que o organismo está a trabalhar num "processo de certificação, porque é importante que as empresas possam ter uma forma de demonstrar que adotam as melhores práticas nesta matéria".
Ainda assim, o responsável recorda que "a criticidade do processo industrial que caracteriza este setor exige normas de segurança rigorosas que as empresas são obrigadas a adotar. Ainda assim, infelizmente, os acidentes acontecem".
Miguel Goulão realça ainda que a Assimagra criou, na altura do acidente, um fundo de solidariedade para apoiar as famílias afetadas. "Foi utilizado e serviu apenas como apoio inicial às famílias afetadas", afirmou.
Esta iniciativa foi "um gesto de solidariedade do setor e nada mais do que isso, já que o que veio, de facto, a ser relevante foi a indemnização que o Estado mobilizou para apoiar as famílias afetadas", ressalvou.
Fátima Messias, por sua vez, pediu um "plano para as pedreiras", que, afirmou, justifica-se a nível nacional.
"Nós temos ido aos locais de trabalho, com exigências, denúncias, mas não temos tido resultados", afirmou a coordenadora da Feviccom.
Na tarde de 19 de novembro de 2018, um troço de cerca de 100 metros da estrada municipal (EM) 255, entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, colapsou devido ao deslizamento de um grande volume de rochas, blocos de mármore e terra para o interior de duas pedreiras, provocando cinco vítimas mortais.
Os 19 familiares e herdeiros das vítimas mortais da derrocada que pediram indemnizações à provedora de Justiça aceitaram os valores propostos por Maria Lúcia Amaral, num total de 1,6 milhões de euros.