Acidente em Borba: Operação de busca e resgate foi "inovadora"
A operação de socorro após a derrocada nas pedreiras em Borba (Évora), que causou cinco mortos, há um ano, foi "inovadora" e permitiu retirar ensinamentos "muito úteis para o futuro", argumentou hoje o comandante operacional distrital.
© Reuters
País Borba
"Foi uma operação única, que nunca tinha sido realizada, quer pelo quadro geral da própria operação, quer pelo tipo de meios e pela envolvência em termos de toda a insegurança geral" do 'teatro de operações', disse, em entrevista à agência Lusa, José Ribeiro.
O comandante distrital de operações de socorro (CODIS) de Évora, que liderou os trabalhos que duraram 13 dias no terreno, frisou que nunca se tinha deparado com "uma situação idêntica".
"Foi uma operação muito inovadora para todos nós" e "para mim também", disse, acrescentando que o planeamento "tinha que ser feito quase dia-a-dia".
Todos estavam "a aprender" no terreno e a "dar passos muito pequenos", mas para que fossem dados "com uma dose elevada de certeza para não cometermos erros", afirmou.
"A segurança marcou muito a operação. Percebemos que o quadro geral era de muito risco" e que "ter um acidente durante as operações teria consequências muito negativas, em toda a operação e mesmo em termos mediáticos", frisou.
Na entrevista à Lusa, hoje, junto das pedreiras onde aconteceu a derrocada do troço de cerca de 100 metros da Estrada Municipal (EM) 255, entre Borba e Vila Viçosa, na véspera de se cumprir um ano do acidente -- 19 de novembro de 2018 -, José Ribeiro insistiu que os operacionais não se podiam guiar por qualquer "referência" anterior.
"Não havia em Portugal, e penso que no estrangeiro também não havia. Não tínhamos orientações que nos pudessem apoiar, quer na fase do planeamento, quer depois na nossa decisão, e dar aqui algum auxílio à operação", sublinhou.
Passada esta ocorrência, que culminou com a recuperação dos corpos das cinco vítimas mortais, "de uma maneira geral todos ficámos melhor preparados" e houve "um conjunto de lições aprendidas ao nível dos diferentes operacionais", opinou.
"A nível nacional, certamente, que as lições que daqui sairão serão muito importantes para podermos melhorar e para podermos enfrentar situações similares a estas", reconheceu o CODIS.
O acidente, cujo alerta foi dado aos bombeiros às 15:45 de 19 de novembro de 2018, aconteceu quando parte da EM255 colapsou, devido ao deslizamento de um grande volume de rochas, blocos de mármore e terra para o interior de duas pedreiras.
Dois operários de uma empresa de extração de mármore na pedreira que estava ativa morreram, assim como outros três homens, ocupantes de duas viaturas automóveis que seguiam no troço da estrada que ruiu e que caíram para o plano de água da pedreira sem atividade.
O CODIS lembrou hoje que, no início, "a informação era muito escassa" e que só mais tarde foi possível ter "a perceção de toda a ocorrência", com uma conclusão imediata.
"Percebemos que a operação era essencialmente para recuperar os corpos. Que as possibilidades" de resgatar alguém com vida "eram muito reduzidas", pelo que, para os operacionais, "era o ponto de honra" retirar os corpos: "Para as famílias poderem fazer o seu luto. Infelizmente chegámos aos 13 dias, mas foi aquilo que foi possível nestas condições de segurança" e "acho que foi até feito de forma muito rápida e muito eficaz".
A operação, que mobilizou um total de 1.500 operacionais e 200 colaboradores, apoiados por cerca de 700 veículos, de várias entidades da Proteção Civil e empresas, município, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Exército e Marinha, deparou-se com vários constrangimentos.
Os "deslizamentos frequentes que ocorriam em toda a zona" e o "risco de deslizamento de toda a escarpa" da pedreira onde aluiu a estrada, o "quadro meteorológico adverso, com muita precipitação", ou as dificuldades de acesso foram alguns deles.
"Quando se trabalha em equipa e de forma integrada as coisas resultam melhor e aqui ficou muito evidente essa realidade" e as "virtualidades" do sistema de Proteção Civil nacional, que recorreu, em Borba, a conhecimento universitário e a novas tecnologias, como "minissubmarinos" da Marinha.
Referindo que, enquanto operacional, tem de ter "algum desprendimento" deste tipo de situações que "são sempre dramas intensos em termos pessoais e familiares", José Ribeiro admitiu que esta ocorrência o marcou e o preocupou "muito", sobretudo em relação à "questão das famílias" e ao "impacto" na comunidade.
Mas, "o tempo tudo ajuda" e há que seguir em frente, mesmo sabendo que, por muito que tenha sido feito "um trabalho muito significativo" na "identificação de zonas de risco" e "de sinalização" de pedreiras na zona e no país, após o acidente, "nunca iremos ter risco zero", frisou.
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