O primeiro-ministro lembrou esta terça-feira José Mário Branco, cantautor que morreu esta terça-feira, como um "grande militante político" que traduziu na música essa militância e expressão.
"Terá sido mais visível, talvez, na fase anterior ao 25 de Abril mas não só. Há por exemplo um álbum notável que é o álbum do FMI e a canção que fez nos anos 80 que ainda hoje é uma peça notável de música e também uma marca de intervenção política", sublinhou António Costa em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação de um livro que homenageia mulheres de vários quadrantes da sociedade.
"Foi sempre um militante político ativo. Ainda nas últimas eleições tomou posições muito claras. Acima de tudo, não se limitou a ser político, foi sobretudo um notável artista que foi capaz também de transformar a política numa arte", destacou.
O primeiro-ministro já havia lamentado esta terça-feira a morte do artista. "Não esqueceremos a sua música, a sua inquietação", escreveu no Twitter.
A erudição musical de José Mário Branco acolheu vários géneros, sem hierarquias, e estendeu-se a outros artistas, com quem colaborou, de José Afonso a fadistas como Carlos do Carmo ou Camané. Não esqueceremos a sua música, a sua inquietação.
— António Costa (@antoniocostapm) November 19, 2019
Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo antes do 25 Abril de 1974 quando estava exilado em França e no período revolucionário. O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.
Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge ou Samuel.
Estudou História nas universidades de Coimbra e do Porto, foi militante do PCP até ao final da década de 60 do século passado e a ditadura forçou-o ao exílio em França, para onde viajou em 1963, só regressando a Portugal em 1974.
Segundo o site esquerda.net, José Mário Branco teve depois uma intervenção política orientada para o agrupamento das correntes maoístas que viriam a dar origem à UDP, da qual foi fundador e dirigente, tendo sido eleito para a direção da UDP em 1980. Mais tarde, apoiou a fundação do Bloco de Esquerda.
Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.