Um homem dependente de cadeira de rodas 'bloqueou' uma carreira da Carris, em Lisboa, na noite da passagem de ano, por falta de condições no acesso à mesma. A rampa elétrica estava avariada e foi-lhe dito que teria de aguardar pelo próximo autocarro, que só chegaria mais de uma hora depois. Sem alternativa, Sérgio Alexandre Lopes colocou-se à frente da carreira 208, manifestando o seu descontentamento perante a situação.
A PSP foi, inclusive, chamada ao local por um dos passageiros do autocarro, que não ficou indiferente à situação, conforme conta o próprio Sérgio Lopes, na sua página do Facebook.
O Notícias ao Minuto já contactou a Carris para obter mais esclarecimentos sobre o episódio relatado, mas até ao momento sem êxito.
"O autocarro chegou às 2h40 e a rampa estava avariada. A temperatura era de cerca de nove graus e a primeira coisa que o motorista disse, pela janela, depois de ter tentado acionar umas seis vezes o dispositivo, foi 'vai ter que esperar pelo próximo'. Este é o discurso habitual", conta Sérgio Lopes.
A questão é que o próximo autocarro só chegaria 112 minutos depois, o que o levou a questionar o motorista sobre a alternativa que a empresa lhe poderia dar.
"Entretanto, com autocarro impedido de avançar, tenho todo o tempo para descrever a situação aos agentes da PSP. Reforço que a situação é constante e, naquele contexto, tudo se torna ainda mais grave. Expliquei que tenho o mesmo direito que todos os passageiros a viajar naquele autocarro, que tenho passe, que a Carris incumpre a Lei 46/2006, que proíbe e pune a discriminação em razão da deficiência e da existência de risco agravado de saúde, e que a alternativa que a Carris me estava a dar era um autocarro mais de 1h30 depois, sem garantias de ter uma rampa funcional", pode ler-se na mesma publicação.
A alternativa acabaria por chegar. A Carris enviou ao local uma carreira destinada a levar Sérgio Lopes a sua casa. O problema? Novamente a rampa elétrica não funcionava. A alternativa foi proceder à ativação da mesma de forma manual.
"Os polícias, mais uma vez, pelo telefone, questionam o chefe da Carris acerca da situação. O 'chefe' foi perentório – o primeiro autocarro seguiria fora de serviço e o segundo seguiria com todos os passageiros que se juntaram ali ao longo de mais de uma hora. E não éramos poucos", descreve ainda Sérgio Lopes.
Sérgio Lopes refere que esta é uma "prática discriminatória da Carris mas não se circunscreve a esta empresa", apontando outras empresas de transporte. "Não somos cidadãos de segunda. Não deixarei que me tratem como se fosse", remata.
Uma das reações a este caso surgiu por parte do antigo deputado do Bloco de Esquerda Jorge Falcato, que agradeceu a atitude de Sérgio Lopes e deixou a mensagem: "Tolerância zero. Assim se mudam as coisas. Obrigado, Sérgio", pode ler-se numa publicação partilhada na rede social Facebook.
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