"No balneário, passei por eles [os jogadores] um a um até que chego ao Acuña, lembrei-me de toda a situação que tinha visto na Madeira e agredi-o com uma chapada", disse o arguido, na 35.ª sessão do julgamento, que decorre no tribunal de Monsanto, em Lisboa.
Ricardo Neves explicou que o futebolista argentino, que dois dias antes tinha tido uma troca acesa de palavras com os adeptos após a derrota por 2-1 no estádio do Marítimo, "não teve qualquer tipo de reação, parece que ficou estupefacto" e "até se sentou".
O arguido, de 24 anos, admitiu também ter lançado uma tocha para baixo do carro de Nélson Pereira, antigo guarda-redes 'leonino' e membro da equipa técnica, que estava estacionado no interior da academia.
"Lancei uma tocha para o chão e não percebi onde foi parar", disse, afirmando que só quando viu as imagens teve noção de que esta tinha ido "para baixo do carro do Nélson".
Ricardo Neves garantiu que a ida à academia "tinha como objetivo parar o treino para contestar os jogadores", considerando que "depois do jogo da Madeira era preciso questionar os jogadores".
"Eu achava que ao fazer aquilo eles percebiam o que o clube significava para a gente e esperava que fosse uma motivação para a final da taça [de Portugal]", disse.
O arguido assegurou que "não tinha intenção de bater nos jogadores", admitindo que chegou a referir essa possibilidade em mensagens nos grupos de WhatsApp "apenas porque estava frustrado".
Eduardo Nicodemes, também ouvido na sessão da manhã, garantiu que foi à academia para "ver o treino e tentar arranjar bilhetes", acabando por se juntar ao grupo quando viu "uma caravana" de carros a chegar.
O arguido, de 48 anos, disse ter sido o último do grupo a entrar na academia "com um colete na cabeça, por causa dos jornalistas", explicando depois que encontrou Jorge Jesus "em pânico".
"Das primeiras pessoas que vi foi o Jorge Jesus que me disse: 'Tu és dos mais velhos ajuda-me, passa-se ali qualquer coisa, está a haver problemas'".
Eduardo Nicodemes disse ter também visto Manuel Fernandes, antigo futebolista do clube, que o terá mandado embora.
Apesar de estar incluído nos grupos de WhatsApp nos quais foi combinado o ataque à academia, o arguido disse que só se apercebeu de que estava a ser combinada uma ida a Alcochete no dia 15, "a seguir ao almoço".
O julgamento prossegue à tarde com a audição de Bruno de Carvalho, presidente do clube à data dos factos e acusado da autoria moral de 40 crimes de ameaça gravada, 19 crimes de ofensas à integridade física qualificadas e 38 crimes de sequestro.
O processo tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.