Em declarações à Lusa, o presidente do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas, Fausto Pinto, sublinhou a capacidade do sistema nacional de saúde para aguentar o impacto do novo coronavírus, apesar dos mais de 18 mil casos de infeção identificados e 599 mortos, alertando também que Portugal "não atingiu ainda o pico" da doença.
"Sendo o nosso sistema mais frágil, mais facilmente poderia ter sofrido. Felizmente, foi capaz de dar resposta e não entrar em colapso. Cremos que há consciência de que é importante continuar com uma estratégia cautelosa. Isto vai levar tempo e não se resolve em dois dias. Temos de cumprir a terapêutica toda. Seria catastrófico deitar-se a perder na ânsia de querer regressar rapidamente ao normal", afirmou.
Visão semelhante foi partilhada pelo presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, que realçou a necessidade de os portugueses interiorizarem a ideia de "encontrar um novo normal para os próximos meses", de acordo com uma estratégia planeada atempadamente pelo Governo e pela Direção-Geral da Saúde.
"Não havendo terapêutica, vacina ou imunidade de grupo, vamos ter de aprender a conviver com o vírus durante algum tempo e encontrar soluções que permitam mitigar o problema, de forma a que, apesar da sua existência, consigamos restringir a sua circulação para que não cause a disrupção do sistema", observou.
Depois de o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, ter destacado, na conferência de imprensa de quarta-feira, uma taxa de mortalidade no país de cerca de 5,5 por 100.000 habitantes, indicador esse que seria inferior à maioria dos outros países europeus, Fausto Pinto admitiu que o valor é "razoável", mas pede um "olhar crítico" para os números e considera mesmo que a situação "não é cor de rosa".
"Não é para embandeirar em arco, de maneira nenhuma. Apesar de tudo, somos, em termos globais, o 16.º país [em termos de casos positivos], se não estou em erro, o que não é propriamente muito bom. E em termos de mortalidade somos o 11.º ou 12.º país", nota o presidente do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas, acrescentando: "Grécia, República Checa ou Áustria tiveram resultados ainda melhores. Estamos a meio da tabela, sem o horror de Espanha ou Itália".
Paralelamente, confrontado com uma taxa de letalidade da doença (que compara os óbitos face ao número de infetados) na ordem dos 3% em Portugal, Ricardo Mexia assinalou um défice de representação nos números apresentados pelas autoridades.
"O número de doentes reais é superior àqueles que temos notificados e é difícil calcular uma verdadeira taxa de letalidade. E há outro problema: a taxa de mortalidade tem vindo a crescer desde o início de março", apontou.
Segundo o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, "os números são superiores à mortalidade atribuída à covid-19", pelo que "haverá duas explicações: mortalidade associada à covid-19 não diagnosticada e, por outro lado, a mortalidade por causas distintas, em que as pessoas, por receio de se deslocarem às unidades de saúde, desvalorizam sintomas e recorrem tardiamente aos cuidados", concluiu.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 131 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram até quarta-feira 599 pessoas das 18.091 registadas como infetadas.